Projeto de Atenção Ampliada à Saúde: 20 anos de desafios e possibilidades

PAAS: entre práticas renovadas 77 INTRODUÇÃO O presente artigo se propõe a problematizar alguns elementos do trabalho realizado a partir da experiência da coordenação, forma- da por uma dupla de estagiárias de psicologia, em um grupo psico- terapêutico de mulheres maduras, com idades acima de 45 anos. Os encontros ocorreram entre o segundo semestre de 2015 e o primeiro semestre de 2016, no serviço escola da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, o PAAS – Projeto de Atenção Ampliada à Saúde. O PAAS realiza um cadastro bimestral, voltado à população de São Leopoldo, no qual os sujeitos interessados pelo atendimento no serviço inscre- vem-se. O ingresso no grupo de mulheres ocorreu a partir da passagem das integrantes cadastradas pelo acolhimento 4 do serviço que, poste- riormente, encaminhou-as ao atendimento grupal. Também ocorreram encaminhamentos de outros profissionais do serviço que realizavam o atendimento individual das pacientes, e que, a partir da identificação de demanda, consideraram a vivência terapêutica do grupo importante. O Grupo de Mulheres, neste serviço, existe há cerca de 10 anos, e ao longo deste período, novas configurações de coordenadores foram sendo constituídas, assim como ocorreu entrada de novas integrantes e também a permanência de mulheres no grupo desde a sua criação. O modo como este grupo nos foi apresentado, foi com a expressão: “chá com bolacha”, o que nos causava certo mal-estar como coordenação. Entendíamos que um grupo terapêutico implicava em ser um grupo potente, capaz de produzir novas formas de subjetivação, mulheres que pudessem, através do grupo, criar novas formas de vida e de se enxer- gar diante de suas famílias, de seus maridos e delas mesmas. Muitas vezes, víamos um desinvestimento nos grupos 5 , uma desesperança, e 4 O acolhimento permanente é responsável pela entrada dos usuários ao serviço e também pelos encaminhamentos, que podem ser tanto individuais, grupais, como para outros serviços da rede de atenção de saúde do município e, até mesmo, para outros serviços da ação social da Universidade. 5 Esse desinvestimento nos grupos, que falamos aqui, está diretamente ligado a uma lógica na formação de psicólogos e profissionais da saúde em geral, onde pouco se investe durante a graduação na formação de profissionais para trabalhar com e em grupos. Entendendo a importância dos efeitos das práticas grupais nos sujeitos com que trabalhamos e na própria equipe, o Serviço disparou alguns mo- vimentos para que os grupos passassem a serem vistos com a mesma relevância que os atendimentos individuais, tanto pelos usuários do serviço, quanto pela equi- pe técnica (profissionais, supervisores e estagiários).

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