Projeto de Atenção Ampliada à Saúde: 20 anos de desafios e possibilidades
PAAS: 20 anos sonhando juntos 105 rios. Oportunidade em que houve muitos questionamentos, até então ausentes, que explicitaram a dificuldade de produzirmos um debate que não se reduzisse ao confronto com outros saberes, mas que ampliasse a nossa perspectiva sobre os processos de saúde-doença-cuidado. Todos nós sabemos que Saúde é um campo complexo, atraves- sado pela formação técnico-científica, com suas áreas de conhecimento e especialismos, mas também por outros saberes, menos organizados. E, ao mesmo tempo, por uma organização de trabalho em que, muitas vezes, os agentes estão isolados do processo de decisão e de produção de conhecimento. Quando nos referimos à extensão universitária, os agentes são os usuários, os alunos, os professores, os técnicos e os fun- cionários administrativos. Ao identificá-los, antevemos as diferenças, presentes nas relações desses coletivos, que irão fatalmente hierarquizar e ordenar o híbrido espaço em que se constituem as estruturas de ex- tensão: serviço e sala de aula ao mesmo tempo. Abertos a essas discussões que transversalizavam as ativida- des propostas, junto com as leituras provenientes do campo da Saúde Coletiva (CAMPOS, 2007), ocorreu-nos a ideia de organizar o trabalho em núcleos interdisciplinares. Intensos debates e intermináveis reu- niões para chegarmos à definição de núcleo como “o espaço estraté- gico em que as diferentes áreas e práticas se articulariam ao ensino e à produção de conhecimento, nos vários níveis de promoção da saúde. Não tinham caráter administrativo e os trabalhos seriam coordenados por um facilitador”. (MORAES, 2000, p. 17). Interdisciplinaridade é a arte do encontro, antecedido pelo de- sejo dos agentes de trabalharem juntos, frente a uma situação especí- fica ou a partir da leitura de um contexto mais amplo. Nesse último texto citado acima, um dos primeiros que procuramos sistematizar a experiência, referimo-nos à “cena”. Porque identificávamos certo apelo dramático nas práticas interdisciplinares. Afinal, são forças em constante movimento, se contrapondo, nas divergências, ou se alian- do, nas convergências, mas sempre se potencializando. Movimentos de invenção. O que não significava paz, ao contrário: nesse primeiro momen- to, o desconforto e a insegurança eram a tônica. Afetos de um grupo que estava disposto a pensar a partir de outro ponto de vista ético- -político. Ou seja, não havia uma verdade pronta à espera, estávamos
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