Grupalidade em um serviço escola: multiplicidades de um fazer cotidiano

Alexandre de Oliveira Henz, Sidnei José Casetto e Angela Aparecida Capozzolo 99 formação, de adquirir um conhecimento que depois vá ser “aplicado”, mas de produzir um conhecimento em ato, no encontro com o outro – um conhecimento que emerja das singularidades : “[...] a gente aprende muitas coisas com eles. É realmente uma troca [...] o impacto é muito grande que você causa à pessoa e ela causa em você [...] Você foi lá dar uma orientação [...] e a troca acontece mesmo.” (Estudante de Nutrição). “Entendi que lidar com as situações só é aprendido no ato de vivenciá-las, pois não temos a capacidade de prever todos os fatos e muito menos imaginar uma reação precisa a cada um deles.” (Estudante de Terapia Ocupacional). Perceber as insuficiências e os limites do saber permite valo- rizar e aprender com o colega de outra área, inventar possibilidades terapêuticas: “[...] foi marcante uma experiência com uma senhora analfabeta, que a gente fez a linha da vida com ela, um recurso de psicologia, [...] a gente relatou em figuras, a história de vida dela. Fez um livro e quando ela abria, ela chorava. [...] Se eu tivesse talvez a formação tradicional de nutrição eu nunca pensaria em algo assim, algo tão simples que trouxe tanta felicidade para alguém [...]. Então acho que abre muito o nosso olhar [...], foi significativo e interessante.” (Estudante de Nutrição). “Percebemos que muitas vezes atentávamos a fatos diferentes e que a junção dos nossos olhares compunha um quadro mais completo [...] muitas vezes eu enten- dia algo de forma diferente da minha dupla [...] isso fez-me ver outras possibilidades e não afirmar verdades absolutas; passei a considerar mais hipóteses.” (Estudante de Terapia Ocupacional). As experiências possibilitam encontros entre áreas diferentes, e também encontros com sujeitos acompanhados que vivem de modo diverso e singular. A aprendizagem de certo modo de agir, de compre- ender e intervir nos problemas de saúde, na perspectiva de uma clínica comum parece ir sendo tecida. “Aprendi que é preciso lembrar a todo instante que há várias interpreta- ções para a mesma doença.” (Estudante de Nutrição). “[...] hoje entendo que um dos motivos da eficácia de um projeto de inter- venção advém de um grande processo de escuta do profissional [...] escuta essa perme-

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