Grupalidade em um serviço escola: multiplicidades de um fazer cotidiano

98 Discursos e Rupturas de Fronteiras na Clínica Comum em Saúde “[...] a gente estudava algumas coisas, a gente queria aplicar aquilo, e às vezes não só a pessoa não tinha condição, mas às vezes a pessoa [...] não aceitava aquela proposta [...]” (Estudante de Nutrição). “[...] a gente vai começar a dar orientação, [...] não pode fumar, não é saudável. [...] mas ele tem tantos problemas [...] teve tantas perdas já, perdeu a mãe, perdeu os filhos e um dos poucos prazeres que ele tem é fumar, e eu vou tirar aquele cigarro dele?” (Estudante de Terapia Ocupacional). “[...] você acha que a paciente está com depressão e você vai curar a depres- são dela [...], eu fiz lá um inventário técnico, descobri a escala de depressão dela, [...] mas não teve nenhum efeito assim. O que mais foi legal foi a gente ter organizado os remédios para ela, [...] e evitou um monte de problemas porque ela tomava os remédios errados [...]” (Estudante de Psicologia). A experiência deixou perceber os limites de práticas prescriti- vas, unilaterais, hierárquicas: “[...] seu médico recomendou que ela caminhasse todos os dias meia hora, mas M. morava no morro e era bastante complicado andar para comprar manti- mentos, imagine para se exercitar.” (Estudante de Nutrição). “O médico não deixou claro o que ela tinha. Ela não sabia explicar o que tinha e os exames que tinha que fazer.” (Estudante de Fisioterapia). Estudantes descreveram a delicadeza necessária, os momentos de silêncio, de ganhar confiança: “Fui, aos poucos, percebendo que se eu não ganhasse a confiança dela, ela nunca se sentiria à vontade para contar sua história, e sem conhecer sua história eu não poderia compreender suas dificuldades.” (Estudante de Fisioterapia). “Com este trabalho, as maiores dificuldades talvez tenham sido os mo- mentos de silêncio, mas acima de tudo de lidar com o diferente, sem partir de ideias prefixadas como se tentássemos colocar as pessoas em padrões prefixados.” (Estudante de Psicologia). Perceber as preconcepções que se tem, os limites do saber técnico científico, pode ser doloroso, mas é um bom antídoto contra a repetição do ‘já sabido’, que nos distancia dos encontros; permite suportar um pouco mais o não saber. Não se trata, portanto, nessa

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