Grupalidade em um serviço escola: multiplicidades de um fazer cotidiano

96 Discursos e Rupturas de Fronteiras na Clínica Comum em Saúde Durante o percurso da formação são utilizadas estratégias que procuram expor os estudantes ao encontro com usuários da rede de serviços, o que se constitui em exercícios de alteridade (de condição socioeconômica, de vida, de moradia). Estes exercícios lhes possibili- tam perceber que a saúde ganha concretude no modo de viver de cada um e se configura segundo as marcas sociais, culturais, familiares, as crenças e experiências políticas, e muitos outros elementos. O objetivo é contribuir para formar profissionais com capacidade para lidar com as singularidades do encontro com quem demanda cuidado, com aber- tura para dialogar com seu modos de viver, suas concepções, expecta- tivas, prioridades e desejos, reconhecendo-o como agente na produção de sua própria saúde. Procura-se também ampliar as possibilidades de atuação conjunta das várias áreas profissionais, pois a complexidade das demandas de saúde, via de regra, ignora as fronteiras disciplinares. As atividades de ensino são organizadas de forma a mesclar sempre estudantes de cursos diferentes (duplas, trios ou equipes). No primeiro e segundo semestres da graduação, os estudantes realizam ati- vidades de reconhecimento de diferentes territórios do município que possibilitam perceber os diversos modos de vida da população e suas implicações para o processo saúde-doença-cuidado. Abordam-se ain- da as políticas e a organização dos serviços de saúde. Nos semestres seguintes, a ênfase está no trabalho com histórias singulares de vida e de saúde. No terceiro semestre de graduação, duplas de estudantes de cursos diferentes visitam, durante o semestre, uma pessoa ou família em suas residências com o objetivo de construírem suas narrativas de vida. No quarto semestre, equipes de estudantes elaboram e imple- mentam ações de promoção de saúde com grupos populacionais. No quinto e sexto semestres, os estudantes se organizam em equipes para realizarem projetos terapêuticos de cuidado. A maioria das atividades de ensino acontecem nos locais onde vivem as pessoas, nos territórios de maior vulnerabilidade social. As experiências são processadas em espaços de supervisão com docentes de diferentes áreas profissionais. Esta proposta de formação foi avaliada por uma pesquisa 5 que produziu diversos dados discursivos 6 que reproduzimos parcialmente 5 A pesquisa foi realizada pelo LEPETS – Laboratório de Estudos em Formação e Trabalho em Saúde, no período de 2009 a 2011. Os resultados e reflexões dela decorrentes foram publicados no livro “Clínica comum: itinerários de uma formação em Saúde”, editado por Capozzolo, Casetto & Henz (2013). 6 Os discursos foram coletados em sessões com grupos focais (com estudantes do último ano, docentes e agentes comunitários) e entrevistas semi-estruturadas

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