Grupalidade em um serviço escola: multiplicidades de um fazer cotidiano
Alexandre de Oliveira Henz, Sidnei José Casetto e Angela Aparecida Capozzolo 95 cultura, condição social, e que se produzem mutuamente. Encontro de singularidades. No senso comum, as singularidades são predicados atri- buíveis a sujeitos ou indivíduos. É preciso sublinhar que individual não é sinônimo de singular. No sentido que adotamos aqui, singularidades não são qualidades, mas “acontecimentos”, isto é, pontos “notáveis” numa multiplicidade, pontos não meramente “ordinários” e “regulares” (generalidades). As singularidades não se tornam homogêneas, não são reduzidas a uma unidade indivisa (indivíduo). No momento do encontro clínico opera, de modo singular, uma multiplicidade de elementos: escuta, interpretação, percepção, disponi- bilidade para o encontro, atenção, construção de confiança, certa sen- sibilidade, tateamento, movimentos de proximidade e distanciamento, implicação. Todos esses elementos compõem a clínica e são importantes numa perspectiva de produzir um cuidado que considere a complexida- de envolvida nos processos de adoecimento. A clínica que considera as singularidades adota um trabalho sutil, atento à delicadeza da situação, aos problemas que se apresentam a cada encontro de forma distinta. Ela consegue alguma abertura para o outro, para sua fala, para seus modos de ver/perceber/sentir; buscando estabelecer laços, e deslocando-se do lugar de poder/saber, para estar junto, em comum. Todos esses ele- mentos são importantes numa perspectiva de produzir um cuidado que considere a complexidade envolvida nos processos de adoecimento. Podemos dizer que tanto a “clínica das evidências” como a “clínica das singularidades” são dimensões de um “comum” em saúde. Mas, na clínica das singularidades, o comum não é compreendido como o que é igual, como o que é homogêneo, mas como o que se constrói nas diferenças, nos encontros entre o profissional e quem busca aten- ção, e também no encontro entre diferentes profissionais. Exercícios da clínica comum A perspectiva de uma clínica comum que problematize as prá- ticas reducionistas e normativas, a fragmentação das disciplinas e dos especialismos e que possibilite tirar do centro o poder do discurso pro- fissional, tem orientado uma proposta de formação de profissionais de saúde em curso, desde 2005, na Universidade Federal de São Paulo no campus Baixada Santista. Nesta proposta, estudantes de seis cursos da área de saúde (nutrição, fisioterapia, terapia ocupacional, educação físi- ca, serviço social, psicologia) realizam, desde o primeiro ano da gradua- ção, experiências de cuidado em conjunto.
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