Grupalidade em um serviço escola: multiplicidades de um fazer cotidiano

Alexandre de Oliveira Henz, Sidnei José Casetto e Angela Aparecida Capozzolo 91 O discurso do Universitário, por outro lado, corresponderia ao discurso constituído como saber, tendo, consequentemente, a preten- são de domínio por ele. Se o discurso do Mestre produz o saber, o dis- curso do Universitário o detém e o exerce. Sendo um saber instituído, ele afirma-se em sua identidade e resiste a mudanças: “a universidade constitui, portanto, obstáculo ao surgimento de significantes novos se forem destruidores da ordem estabelecida” (CLAVREUL, 1983, p. 171). Almeida (2010), comentando tal discurso, afirma que “o saber no formato do discurso universitário se traduz num conhecimento orga- nizado e cumulativo, capaz de converter-se numa burocracia (…), que apaga o desejo, o desejo de saber” (p. 894). Seria possível dizer que boa parte da clínica médica, senão da clínica das diversas profissões da saúde, exercitam este discurso. A proliferação de diferentes áreas profissionais no campo da saúde ocorre, em especial, a partir da segunda metade do século XX, relacionada com a crescente produção do conhecimento técnico- -científico, com a especialização e a consequente fragmentação dos saberes e das práticas. Para se constituírem, as profissões necessitam delimitar um corpo de conhecimentos e de intervenções específicas, que as diferenciem de outros campos de atuação, conquistando o que Halliday (1987) denomina “mandato de conhecimento”: a capacidade de uma profissão “exercer influência em virtude da substância, forma, transmissão, eficácia, objetos e legitimidade de seu núcleo cognitivo. Trata-se de uma permissão epistemológica de influência pública (…) mediada pela política ocupacional e organizacional”. (HALLIDAY, 1987, p. 29). Diante de outro profissional, trata-se de defender a pró- pria identidade e produzir a necessidade de seu saber especializado e competente. O discurso da competência, diz Chauí (1981), depende da afir- mação e aceitação tácitas de incompetentes. Porém, uma vez estabele- cido, tal discurso procuraria devolver alguma competência a quem ela fora negada, na forma de conhecimento e regras transmitidas pelos sujeitos competentes: seriam os discursos secundários ou derivados, acessíveis aos leigos, que deles se apropriariam. Assim, citando Claude Lefort, Chauí ( Idem ) indica que o discurso pediátrico teria se torna- do mediador da relação com a criança, o discurso dietético media- dor da alimentação, o discurso psicológico mediador da relação com os outros etc. Tais discursos (“universitários”, nos termos de Lacan/ Clavreul) não se apresentariam como alternativas éticas possíveis se- gundo determinados valores de escolha, mas como científicos, isto é,

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