Grupalidade em um serviço escola: multiplicidades de um fazer cotidiano

Natália Heloisa das Dores e Michele Scheffel Schneider 69 de momentos em que precisavam ficar sozinhos e, quando não tinham espaço para isso criavam alternativas que compartilharam com os de- mais. Segundo Caldin (2004), saber que os problemas não são somente seus, garante à criança que ela também não está sozinha na sua dor. Adriano demonstrou no brincar o desejo de ser cuidado e ser visto como criança pelos seus pais, representando de forma simbóli- ca o quanto precisa se manter protegido dos conflitos familiares que presencia. Giovana conseguiu se apropriar do espaço da oficina para ocupar seu lugar de criança que estava lhe sendo tirado. Nesse sentido, Rosa (2008) diz que as histórias literárias agem como via de acesso ao inconsciente infantil, rompendo com uma história que parecia já estar escrita, trazendo novas possibilidades de recontagem e reconstrução. Identificou-se que contar histórias não fazia parte da relação entre as crianças e seus cuidadores, faltando momentos de interação entre eles. Contudo, pode-se perceber um sentimento de prazer nos cuidadores quando, depois de muito tempo em que não desenhavam ou conversavam sobre fatos de sua infância, a maioria deles se permitiu fazer isso no grupo, interagindo com a criança e vivendo um momento de brincadeira, desenho e diálogo. Em mais de um encontro os cuidadores apresentaram resistên- cia em entrar na sala ou desenvolver a atividade, situações estas muitas vezes resolvidas pelas próprias crianças que estimulavam ou apontavam ao cuidador o caminho. Pode-se compreender que para os cuidadores foi difícil este momento. Quando eles puderam estar mais disponíveis para a criança e com possibilidade de interagir com elas, acabaram por reconhecer suas próprias dificuldades e a, partir disso, serem convoca- dos a produzir mudanças, para as quais talvez não estivessem prepara- dos. Sem contar que as pequenas mudanças de comportamento das crianças, identificadas na oficina, mobilizaram alguns cuidadores. Nos três encontros as crianças se mostraram tranquilas, interagiram com os demais e em momento algum foram agressivas, ao contrário da fala dos próprios cuidadores; o que nos faz pensar no espaço potencial da oficina. Entende-se que, na comunicação em grupo, os participantes ao reorganizarem as suas narrativas buscam novos significados sem perder a direção da vida. Tal fato foi observado em Giovana que, a partir do espaço grupal, apresentou mudanças em relação a sua postura

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