Grupalidade em um serviço escola: multiplicidades de um fazer cotidiano
68 Os primeiros passos da Oficina de Contos do PAAS Dos quatro encontros propostos, ocorreram três. Acreditamos que além das questões financeiras e de tempo (frio, chuva), trazidas pelo grupo, em contato posterior, como um impeditivo, existiu tam- bém a influência da própria intervenção. A atividade em grupo estava provocando movimentos, retomadas de memórias que, de certa forma, causavam resistência em seus integrantes. Reflexões sobre a experiência O peso para a vida da criança daquilo que não é dito, mas que está presente, pôde ser observado, pois todos deram atenção quando houve uma abertura para ouvir sobre a vida dos adultos. Ficou nítida a importância dada pelas crianças à história de vida dos seus cuidadores e desses em se deixar fazer parte da vida das crianças, com momentos em que puderam compartilhar risadas e deixar marcas de alegria. Nesse sentido, Souza e Ramires (2006) trazem que o papel da criança na cons- trução da realidade é determinado como o de um receptor ativo do ambiente, considerando a forma como representa a informação que dele capta. As crianças demonstraram que estavam atentas ao ambien- te; Guilherme, por exemplo, disse que só chorava quando queria, mas que a sua mãe chorou muito quando se separou do seu pai. Ou seja, mesmo a mãe não falando do ocorrido, Guilherme fez a sua associação. Tanto nas relações em que havia a dificuldade de fornecer autonomia a criança por parte do cuidador, como o contrário, em que o amadurecimento precoce era estimulado, identificou-se o que Bettelhein (1980) propõe, ou seja, para iniciar o desenvolvimento de uma individualidade madura, a criança deve começar a encarar o mun- do externo à sua casa, sem ser pressionada com muitas informações ou direcionamentos, caso contrário a criança se sente indesejada e sem importância, prejudicando o desenvolvimento de sua capacidade de li- dar com o mundo mais amplo. Porém, se não recebe apoio dos pais na sua pesquisa real e imaginária do mundo exterior, corre o risco do desenvolvimento de sua personalidade se empobrecer. Identificou-se que ao longo dos três encontros houveram al- guns ganhos por parte das crianças em relação à socialização e compar- tilhamento de experiências. Todas apresentaram melhoras na interação e no respeito pelo outro, com momentos em que conseguiram identi- ficar situações comuns entre si e falar sobre elas, como por exemplo, o fato de serem filhos de pais separados ou de terem dificuldades no início do ano com as mudanças de turma e professora. Ainda, falaram
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