Grupalidade em um serviço escola: multiplicidades de um fazer cotidiano

Natália Heloisa das Dores e Michele Scheffel Schneider 67 de referência consistente. Seu padrasto demonstrou atitudes infantis e parecia não conseguir se colocar como uma base segura para Estela. No segundo encontro a proposta era descobrir contos em co- mum na história de crianças e cuidadores. Ao ser proposto que eles desenhassem um conto que lembravam da infância foi identificado que não houve similaridade entre os desenhos realizados, nem mes- mo compartilhamento na construção das produções gráficas. Chamou atenção, neste encontro, que as crianças disseram que em casa costu- mavam ler sozinhas as histórias. Ainda, a mãe de Giovana referiu que quando se interessa por algum livro que a filha está lendo pede a ela que o empreste depois de lê-lo. Além da falta de momentos de interação entre eles, nos impres- sionou o fato de Adriano e Guilherme não conseguirem desenhar um conto e preferirem criar suas próprias histórias. A avó de Nara ao ser estimulada pela menina disse que conhecia o conto da “Chapeuzinho Vermelho”, embora não lembrasse claramente dele. No terceiro encontro, foi retomada a ideia do conto como for- ma de aproximação entre gerações e, para tanto, foi solicitado que eles compartilhassem a leitura de alguns contos que foram citados no en- contro anterior. Foram apresentados vários livros para eles escolherem um e identificamos que as crianças demonstraram certa dificuldade nesta escolha. Por votação foi eleito o conto “Chapeuzinho Vermelho”, escolhido inicialmente por Giovana e tendo a concordância do restante do grupo. Neste dia a mãe de Giovana não pôde participar devido ao tra- balho, e a menina, acompanhada pela avó, escolheu o conto citado pela mãe no encontro anterior. Este fato pode nos remeter a sua busca pela mãe que não estava presente, simbolizando uma aproximação entre mãe e filha. Sobre esse conto Corso e Corso (2009) trazem que ele representa o risco de incorporação ao corpo materno; a personificação de um objeto fóbico, através do lobo, que ajudará a criança a circular no mundo externo; além de trabalhar sobre a sexualidade infantil que a criança tem curiosidade, mas ainda não sabe como entendê-la. Adriano mostrou alguns brinquedos para sua mãe que o tratou de forma ríspida, dirigindo-se a ele para chamar sua atenção por atitudes que ele demons- trava ao brincar. Neste caso, fica claro o quanto o menino convoca a sua mãe e existe uma dificuldade dela em responder a este pedido. O vínculo afetivo entre eles parece frágil e entendemos que a mãe projeta seus problemas familiares no menino.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz