Grupalidade em um serviço escola: multiplicidades de um fazer cotidiano

62 Os primeiros passos da Oficina de Contos do PAAS trabalhar com uma proposta que pudesse contemplar os vínculos afeti- vos e seus impactos na vida dos sujeitos e em suas relações. Os contos de fadas Escutar um conto de fadas promove a experiência compartilha- da de desfrutar o conto; enquanto a criança desfruta a fantasia, podendo sentir-se exultante porque entende melhor alguma coisa sobre si mesma, o adulto pode derivar seu prazer da satisfação da criança de experimen- tar um súbito choque de reconhecimento. (BETTELHEIN, 1980). As trocas entre o adulto e a criança, tendo os contos como intermediários, podem funcionar como uma espécie de diálogo inconsciente. (CORSO; CORSO, 2009). É possível dizer que contar histórias é uma das melho- res maneiras de ocupar o lugar geracional que cabe aos pais, junto a seus filhos. Corso e Corso (2009) sustentam que os filhos para conseguirem recontar a sua própria história, à sua maneira, precisam ter tido pais su- ficientemente narradores, capazes de tecer uma teia de sentido em torno das crianças. Mitos e contos de fadas falam-nos simbolicamente sobre conte- údos inconscientes, sendo seu apelo simultâneo à nossa mente conscien- te e inconsciente, dando aos fenômenos internos psicológicos corpo, em forma simbólica e, por isso a sua eficácia, afirma Bettelhein (1980). O autor ainda aponta que como os contos de fadas garantem um final feliz, a criança não precisa ter medo de que seu inconsciente venha à tona, pois qualquer que seja a descoberta, ela ficará bem. Usando processos de pensamento que lhe são próprios, as histórias infantis abrem visões que permitem a criança vencer sentimentos momentâneos de absoluta falta de esperança, sendo necessário ouvi-las muitas vezes para acreditar e fazer da visão otimista dela uma parte da sua experiência de mundo. Corso e Corso (2009) afirmam que através da fantasia, propor- cionada pelos contos de fadas é possível a tradução de sofrimentos ín- timos. Schneider e Torossian (2008) realizaram uma pesquisa utilizando os contos como dispositivo para a sua intervenção e identificaram que o ato de contar histórias contribuiu, de forma ilimitada, ao desenvolvi- mento da função simbólica, uma vez que oportuniza as crianças em so- frimento a narração de aspectos da sua própria história e, assim, permite a ressignificação de traumas e produção de novos sentidos para a própria existência. Através de uma história podemos encontrar um sentido, que a princípio não é nosso, mas nos ajuda a dar forma, ao nosso sofrimento.

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