Grupalidade em um serviço escola: multiplicidades de um fazer cotidiano
46 Supervisão em grupo: ensino aprendizagem em psicoterapia. Relato de experiência plo, uma de nós, se deu conta de que tinha dificuldades na hora do brin- car com sua paciente de oito anos, e que a intelectualização presente na menina, a estagiária, contratransferencialmente, também o produzia. Assim, o grupo pôde apontar para estas fragilidades e buscar recursos para superá-las, como usar o jogo, ou dramatizações com a intenção de produzir o que se passaria dentro do setting terapêutico, ampliando assim a capacidade de compreensão, de atendimento e consequente avanço no tratamento da pequena paciente. Em outra situação, uma das estagiárias, mãe e com experiência no segmento profissional da educação, relatou uma de suas sessões iniciais. Um menino de dez anos era o paciente. Ele chegou ao consul- tório com um sorvete na mão e segurando um guardanapo. A terapeu- ta/estagiária pediu que o menino jogasse o papel na lixeira. Quando levou o relato para o grupo de supervisão, a supervisora pontuou que a estagiária deveria ter deixado o papel no chão para observar, pois em seguida o paciente poderia fazer algo com ele. O fato tornou-se um marco na trajetória da estagiária, nesse momento, com o apoio das colegas e da supervisora. Ela pôde entender que teria que lidar com suas contratransferências, saindo do lugar de mãe e educadora para ocupar o lugar de terapeuta. Diante da postura acolhedora do grupo de supervisão, foi possível que o fato oportunizasse um importante aprendizado e também fosse pontual para a estagiária e pudesse voltar a ser lembrado em várias outras supervisões, como ilustração para as outras estagiárias, e fosse relembrado, algumas vezes com humor, fato possível pela sintonia do grupo. A relação grupal que temos vivenciado tem oferecido suporte e apoio para as dificuldades vivenciadas na clínica e tem como resultado uma melhor condição de escuta dos pacientes, pois o estabelecimento do enquadre em grupo se transpõe para o estabelecimento do enqua- dre com os pacientes. Na medida em que interagimos enquanto grupo e somos reconhecidas enquanto terapeutas iniciantes, conseguimos fa- lar mais claramente dos sentimentos contratransferências vivenciados com os pacientes e no grupo da supervisão. Usando como base as ideias de Bion (apud ZIMERMANN, 2007), identificamos que durante o período de estágio, os encontros em grupo de supervisão podem ser caracterizados como um espaço de continência para os conteúdos trazidos por nós. Assim como o set- ting terapêutico é continente para o paciente, o espaço grupal também se constitui de forma continente, acolhendo, contendo, decodifican-
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz