Grupalidade em um serviço escola: multiplicidades de um fazer cotidiano
Débora Cipriani, Francine N. de Souza, Juliana S. Ribeiro, Larissa B. da Luz, Luana de Castro Flores e Rosana C. de Castro 43 [...] o brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde; o brincar conduz aos relacionamentos grupais; o brincar pode ser uma forma de comunicação na psicoterapia; finalmente, a psicanálise foi desenvolvida como forma altamente especiali- zada do brincar, a serviço da comunicação consigo mesmo e com os outros. (WINNICOTT, 1975, p. 63). Monteiro e Nunes (2008, p. 7) trazem que as constantes intera- ções entre estagiários e supervisor, acabam por “facilitar os processos de assimilação de atributos profissionais cognitivos, afetivos, técnicos e éticos - aqueles necessários para conquista da diferenciação de papéis de estudante e de estagiário/futuro profissional”. Durante o período de estágio, cada uma das estagiárias acom- panha em média cinco pacientes. Nossas supervisões ocorrem sema- nalmente às quartas-feiras das 13h30min às 17h30min. Há um crono- grama prévio para os encontros. Na primeira hora, acontece o relato da sessão dialogada 8 de um de nossos atendimentos. Para isso, nos va- lemos da nossa memória, sendo que os lapsos também são considera- dos material de supervisão. Em geral, escolhemos para dialogada uma situação com a qual estamos tendo maior dificuldade no atendimento ou mesmo aquela sobre a qual buscamos elucidar o que se passa entre o paciente e nós em termos de sentimentos. Cifali (2000) ressalta que um dos dispositivos que pode ser usado como ferramenta de trabalho na formação em psicologia é o uso da narrativa, pois pode contribuir para a construção de uma memória da prática. A narrativa que relata a expe- riência é, segundo Green (2002), um primeiro passo na construção do pensamento clínico. Nela, o estagiário poderá ordenar temporalmente os acontecimentos produzidos no terreno da ação e, a partir deles, re- fletir sobre a sua práxis. Isto porque a observação e a reflexão acerca da ação somente podem se dar de forma retroativa. É necessário fazer uma seleção e apresentar o material de maneira aceitável, lógica, orga- nizada e compreensível para o outro, auxiliando na exposição objetiva para o grupo de supervisão. A dialogada costuma ser, inicialmente, fonte de ansiedade. Nas primeiras vezes, ficamos tão preocupadas em lembrar o diálogo com 8 Relato dialogado das sessões de psicoterapia consiste em escrever aquilo que fica em nós como registro do atendimento. Tentando restabelecer o diálogo ocorrido na sessão, transcrevemos tal qual ele nos surge, com as lembranças, lacunas e impressões, pois é por meio do relato e tudo o que se associa a ele que teremos acesso ao caso e a tudo o que ele suscitará em nós. (ZANETTI; KUPFER, apud FRANKE; SILVA, 2012).
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