Grupalidade em um serviço escola: multiplicidades de um fazer cotidiano

30 Espelho, espelho meu, existe alguém ‘que precise mais de ajuda’ do que eu? o eu inconsciente e o lugar de onde o sujeito enxerga o “eu”. Desta forma, o espelho não é somente um objeto de reflexão visível, mas também de audição, de sensibilidade e de intencionalidade. Ele tem a incumbência de nos mostrar a função relacional que se estabelece por um espelho diferente: o espelho do ser do sujeito no outro. (DOLTO; NASIO, 2008). Segundo os mesmos autores, este fato pode provocar vários sentimentos no grupo de acolhedores que ali se encontram – dos dois lados do espelho –, uma vez que estes que ali estão como cuidadores poderão se dar conta de algo da sua história de vida e ver que a imagem que é refletida e devolvida pelo espelho para nós, pode estar um tanto quanto distorcida para nós mesmos. Nesse sentido, além de auxiliar na construção de saúde e subjetividade do outro, podemos nos encontrar nesse outro e juntamente com ele, também nos constituir como sujei- tos. Nesse momento, vemos a importância do processo de acolhi- mento que se constrói coletivamente, que é rico não apenas para o usuário como também para quem acolhe, onde cada um, através de uma palavra de conforto, um olhar ou do relato de uma experiência que teve na sua vida profissional, transmite ao outro, dando sentido e am- paro quando afetados pelas palavras dos usuários que ali estão falando do seu sofrimento. Somos felizes por nos afetarmos pela palavra do outro, pois um homem é vivente com palavra. É a palavra que inventa realidades e transforma nossa subjetividade. Ela nos reinventa e dá sentido ao que somos, sentimos e fazemos. (BONDÍA, 2002). Acreditamos serem as palavras que ouvimos, que lemos e que falamos, que nos constitui como profissionais de potência, que tocam os outros e que são tocados. Assim, fortalecemos nossos laços coletivos e nos nutrimos de forças de vida que estão presentes nas relações que constituímos com e como sujeitos. (BRASIL, 2010). Considerações finais Acolher em grupo é uma acolhida com responsabilidade e de- dicação, onde vários profissionais discutem cada caso de forma singu- lar e sempre pensando no melhor encaminhamento para a demanda que nos é trazida. Segundo Mehry et al. (2004), acolher é considerado como um ‘trabalho vivo no ato’ que acontece no encontro único entre

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