Grupalidade em um serviço escola: multiplicidades de um fazer cotidiano
Alana Hoffmeister, Daroixa Luft, Patrick Deconto e Patrícia Arnhold 29 manejo desses sentimentos. Para Bondía (2002, p. 21) “a experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca”. Assim, a nossa experiência e vivência do espaço de acolhimento traz consigo sentimentos intensos, que são desencadeados pela visceralidade dos encontros, sempre mar- cados por experiências de vida que podem nos chocar ou sensibilizar. A partir disso, também é interessante refletirmos sobre o espe- lho, que divide o grupo que acolhe e a Sala de Gesell, o qual ocupa um lugar importante nesse processo. Quando um novo acolhimento inicia, sempre explicamos que do outro lado do espelho existe outra parte do grupo de acolhedores que ajudará a pensar no encaminhamento àque- les usuários, e por vezes, não conseguimos identificar de fato, qual é a demanda que essas pessoas nos trazem. Parece que quem está sendo acolhido olha para o espelho e nos fala: “Espelho, espelho meu, existe alguém ‘que precise mais de ajuda’ do que eu?”. Diante disso, podemos dizer que em vários momentos nos de- paramos com histórias de vida tão tristes e tão dolorosas que não pare- cem ser reais. Da mesma forma, a música de Vinicius de Moraes, citada acima, nos lembra da “casa” interior de alguns sujeitos que vem até o PAAS buscando ajuda. Quando essas pessoas contam suas histórias parecem não ter mais nenhuma opção e colocam em nós, profissionais de saúde, o que de mais importante ainda possuem: sua subjetividade, sua família, seu desejo, sua confiança e seu corpo. Entendemos também que uma das funções do espelho é zelar pelo espaço de ensino aprendizagem, proporcionando que todos pos- sam se ver como coordenação do acolhimento, mas em outra perspec- tiva. Isto permite que aqueles que estão atrás do espelho possam ter certo distanciamento das redes de transferências. Isso não significa não vivenciá-las, mas de alguma forma, poder se dar conta das relações que são produzidas e dos papéis que cada um vai assumindo entre os usuá- rios que estão sendo acolhidos. Podendo tornar todas essas observa- ções objetos de reflexão tanto do indivíduo singular como também do indivíduo coletivo que ali se forma. (SILVA; SCHNETZLER, 2000). A outra função que identificamos no espelho tem relação com a imagem que ele reflete e constitui para ambos os lados. Dolto chama- ria isso de imagem inconsciente do corpo, que é diferente da imagem que, cotidianamente, o sujeito percebe de si. A partir disso, podemos perceber a parte dolorosa do corpo, a dor como imagem do corpo que constitui e apreende o eu. Assim, o corpo passa a ser ao mesmo tempo
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