Grupalidade em um serviço escola: multiplicidades de um fazer cotidiano

18 As ampliações que o trabalho com grupos pode promover em uma clínica escola alguma natureza, é por-se numa posição contrária aos redu- cionismos psicologistas e tecnicistas a que muito comumente as práticas grupais ficam aprisionadas. (BARROS, 2004, p. 78). Começamos então a experimentar, inicialmente na equipe do Núcleo de Grupais, a construção de grupalidades que não pretendiam apagar as diferenças conceituais que existiam entre nós, mas buscá- vamos afirmá-las, fazer as articulações possíveis para em tempos em que “somos vítimas ou cúmplices do sequestro, o sequestro do co- mum, uma expropriação do comum 6 era um desafio baixar as resistên- cias e acolher as ideias, os conceitos diferentes, outros jeitos de fazer. Experimentávamos uma certa grupalidade, parecia fazer sentido coo- perar, percebíamos nossas diferenças, singularidades, mas também sa- boreávamos a possibilidade de pensar juntos, de termos pautas conjun- tas de construirmos coletivamente novas proposições para o Núcleo de Grupais, para o Serviço, para a formação dos futuros profissionais que ali estagiavam conosco. Tais reflexões davam visibilidade e lugar a processos coletivos, tornando-nos, profissionais e estagiários, menos refratários a experiências de cooperação e solidariedade. Íamos criando um campo de comum entre nós: […] comum mais como premissa do que como promessa, mais como um reservatório compartilhado, feito de multipli- cidade e singularidade, do que como uma unidade atual com- partida, mais como um a virtualidade já real do que como uma unidade ideal perdida ou futura. Diríamos que o comum é um reservatório de singularidades em variação contínua, uma matéria anorgânica, um corpo sem órgãos, um ilimitado (apeiron) apto às individuações as mais diversas. (PELBART, s/a, p. 4). Portanto, ampliar as práticas grupais no Serviço tem implicado em acionar descristalizações de lugares, de concepções, de verdades so- bre os efeitos dos dispositivos individuais e grupais, fazer torções nos modos individualistas e solitários de ser enquanto pessoas e profissio- nais, resistir aos sequestros e capturas do comum. Bem como sustentar esses outros modos de trabalhar junto com os usuários para melhor enfrentar e suportar seus padecimentos. Conforme BERNARD (1987) 6 PELBART, Peter Pál. Elementos para uma cartografia da grupalidade Disponível em: <http://docslide.com.br/documents/elementos-para-uma- -cartografia-da-grupalidade-peterpal-pelbart.html>.

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