Grupalidade em um serviço escola: multiplicidades de um fazer cotidiano
Lígia Hecker Ferreira 17 Colocou-se para equipe a urgência de pensar qual era o lugar e o poder que atribuíamos aos grupos. Acolhíamos em grupo nossos usuários 4 , mas nossa tendência, quando os casos se apresentavam com maior gravidade, era de encaminhar para atendimento individual; ou ainda, constituíamos e trabalhávamos o acolhimento em grupos mas, muitas vezes, nossa escuta era individual no grupo, pouco exploran- do as virtuais grupalidades que ali se configuravam. Outra situação bastante emblemática de nossas contradições, que poderíamos tomar como um analisador institucional, era a existência de dois Núcleos de Práticas Grupais que se justificavam pelas diferenças teóricas 5 e pela pouca comunicação entre si, resultando, em determinado momento, numa disputa por usuários. Tal fato foi um analisador para nós, pois nos percebemos cindidos reproduzindo a lógica individualista e do projeto pessoal fragilizando nossa potência coletiva o que denotava nossa dificuldade em escapar do projeto individualista para construir e operar conjuntamente uma política de grupos para o Serviço. Tais episódios de mal entendidos e conflitos comunicacionais no Núcleo, bem como o encerramento de alguns grupos foram nos demandando reflexão e análise. Neste momento, começamos a reunir os dois Núcleos para esclarecer, entender, resolver e ultrapassar tais questões. Nos foi possível olhar para alguns dos obstáculos, nossos não saberes, exercitamos o diálogo, a análise de certos instituídos que oportunizaram constituirmo-nos como um único Núcleo composto pela diversidade, ou melhor, por nossas singularidades que ao invés de determinarem a impossibilidade de trabalharmos juntos, aumentou nossa potência, nossa voz e nossas articulações institucionais. Colocar o grupo em análise é abrir-se à dimensão sócio-his- tórico-política de sua construção, é dessubstancializá-lo, des- tituindo-o de qualquer pretensão a encontrar em si mesmo 4 O acolhimento no PAAS é realizado em grupo de até oito pessoas e coorde- nado por uma dupla interdisciplinar de estagiários. Acontece na sala de Gesell com acompanhamento da equipe. Para maiores informações acesse o volume 1 dos Cadernos do PAAS. Adiante nesta edição há um artigo sobre a prática do acolhimento. 5 A graduação em Psicologia da Unisinos possui, em seu Projeto Político Pedagógico, Três linhas teóricas que compõem o currículo, quais sejam Analítico-Institucional, Psicanálise e Teoria Cognitivo Comportamental. Como a prática grupal no serviço inicialmente foi considerada uma ação onde a psi- cologia teria maior apropriação, as diferenças técnico teóricas assumiram um lugar de organização também no serviço, constituindo dois núcleos: um de orientação psicanalítica/analítico institucional e outro de orientação cognitivo comportamental.
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