Grupalidade em um serviço escola: multiplicidades de um fazer cotidiano
Alexandre de Oliveira Henz, Sidnei José Casetto e Angela Aparecida Capozzolo 101 uma síntese disjuntiva, eles próprios disjuntos e divergentes, membro disjuncta”. (DELEUZE, 2000, p. 185). Evidentemente, os movimentos dicotômicos persistem na saú- de, eles coexistem com o comum. Entretanto, com a reconfiguração e desconfiguração atual de determinados dualismos produzidos marca- damente no final do século XVIII (natural versus artificial, dentro ver- sus fora, público versus privado), distintos modos de operar do comum avançam e se instalam furtivamente. Uma vez coexistindo e concorren- do com as identidades estáveis e dualismos bem delimitados, o comum – com suas múltiplas ondas e frequências – se move com vetores em agonística: em alguns terrenos restringe-se às generalidades e em ou- tros opera predominantemente com as singularidades. É importante sublinhar que entre os terrenos mais reducionis- tas e os mais complexos do comum as discriminações se embaralham. Não se trata apenas de diferenças terminológicas, há um jogo de ten- sões que não são antagônicas, não se resumem numa fácil dicotomia. As profissões do campo da saúde estão expostas e formam juntas os planos da clínica comum, que tendem a se instalar com demarcações instáveis. Em alguns pontos misturam-se e em outros distanciam-se. Quando o comum se circunscreve a traços do coletivo das ge- neralidades epidemiológicas, das origens (genéticas, hormonais ou si- nápticas) e dos supostos marcadores biológicos, ele corrobora, parado- xalmente, com a supressão dos identificadores profissionais e homoge- neiza a formação, a pesquisa e a atenção à população. De outro modo, quando o comum prioriza operar com as singularidades (inclusive com as biológico-moleculares), com os encontros, com as diferenças da clí- nica, as áreas profissionais também se desestabilizam. As singularidades do comum que a clínica tenta operar estão dispostas de modo a não opor áreas, terrenos ou lotes profissionais. Não se trata da dissolução das áreas profissionais. Em Spinoza (1670/2009), as singularidades se relacionam à ideia de que tudo que existe é uma modificação da subs- tância única que é a natureza. Trata-se de um naturalismo não fisica- lista, com uma inseparabilidade do mental e do corporal, do psíquico e do somático. Uma univocidade complexa que subsume indivíduo e ambiente num mesmo todo aberto. Nesse sentido, uma clínica comum pode ser uma das possibilidades de acompanhar esta complexidade – não sem efeitos imunitários (ESPOSITO, 2010), reações e fechamen- tos – trabalhando com uma multiplicidade descritiva. Clínica que pode seguir acompanhando e produzindo um comum ao se instalarem no
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