Grupalidade em um serviço escola: multiplicidades de um fazer cotidiano
100 Discursos e Rupturas de Fronteiras na Clínica Comum em Saúde ada por momentos confortáveis e desconfortáveis [...] o saber lidar com os momentos desconfortáveis foi algo que conquistei neste pequeno processo de visitas.” (Estudante de Terapia Ocupacional). Esta proposta de formação busca multiplicar o trabalho de equipes multiprofissionais que se deparam com a complexidade de demandas que, via de regra, ignoram as fronteiras disciplinares. Para vencer a fragmentação do cuidado produzido pelas especialidades, constituem-se ações coordenadas em projetos terapêuticos nos quais se redesenham as linhas que demarcam as atribuições de cada participan- te. Já não é o caso de cada um realizar estritamente os procedimentos pré-estabelecidos de sua área, mas inventar a melhor forma de resposta ao pedido de ajuda. E, sendo feito com outros profissionais, esta inven- ção não precisa restringir-se a definições prévias de quem faz o quê, na medida em que se apoia no saber que agora é o da equipe. O cuidado em saúde, nestes termos, deixa de ser centrado no profissional, suas competências e prerrogativas, para ser centrado no usuário, em cuja vida as mesmas formalidades inexistem. Uma outra ordem, em relação à ordem médica, estaria sendo exercitada. Ganha-se, com isso, um grande espaço terapêutico que ocorre entre os limites das áreas, potencial que só se consegue explorar no encontro de diversas profissões. Mas deve-se reconhecer que as identi- dades profissionais sofrem neste processo uma perda de sua pureza. Se antes podiam definir-se por oposição simples aos diferentes e afirmar- -se em sua idiossincrasia, agora as linhas precisas que as demarcavam tornam-se faixas espessas, verdadeiras áreas de transição, tal como fi- zeram britânicos e alemães na Primeira Guerra Mundial das terras de ninguém entre as trincheiras, para jogar futebol ou comemorar juntos uma data festiva durante períodos de trégua. O comum das generalidades e das singularidades Com o declínio do indivíduo e da identidade na clínica, a noção de uma clínica comum se estende e exige ser tomada numa perspectiva que a problematize, nos vários âmbitos em que essa ideia incide. O co- mum é um plano, uma substância e não duas, o que não quer dizer que ele seja uma unidade. Ele é um plano sem dualismos nem bipartições que aponta, contemporaneamente, para uma tendência: a univocidade. O jogo do comum pode ressoar com a produção da univocidade. “A univocidade do ser não quer dizer que haja um único e mesmo ser: ao contrário, os entes são múltiplos e diferentes, sempre produzidos por
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