Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola

Sheila de Souza Staudt 87 Para além do núcleo, o serviço tem feito movimentações importantes em relação ao tema, como por exemplo, abrindo espaços de discussões de casos que envolvam as três áreas e o coletivo como um todo, não especificamente aqueles profissionais que atendem diretamente o usuário; trata-se de reuniões periódicas de discussões de casos, envolvendo todo o serviço, e por assim dizer, os diferentes olhares. Uma corresponsabilização, eu diria, que fortalece a comunicação e a heterogeneidade, e nos coloca em um lugar de criação provocando reflexões sobre o tipo de clínica que queremos apostar. Mas se clínica e política se ligam, essa conexão nos leva a essa outra entre clínica e arte. Há um paradigma estético na clínica que está comprometida com a criação de si e do mundo. Tal criação se faz por um experimentalismo ou uma ousadia de invenção de formas de cuidado, de formas de estar no mundo, de formas de cidadania. A clínica é um experimentalismo, mas nem por isso é menos rigorosa. Há um rigor metodológico dessa experimentação. (PASSOS, 2013, p.215) A partir dessas reflexões, cabe colocar o quanto uma clínica criativa, que esteja aberta à criação e a reinvenção, pode falar de um fazer psi comprometido com o sujeito naquele momento de sua história, atento às forças de produção de subjetividade, não as entendendo como algo que está interiorizado nele, mas sim, que perpassa e transpassa todas as esferas de sua vida. O sujeito e seus devires. A clínica e seus devires. As problematizações que aqui trazemos, remetem-nos ao campo das invenções, das mudanças, ao campo dos desafios. Trata-se de um território assumido como político onde as lutas se fazem cotidianamente. Ao entendermos o homem e a sociedade, a psicologia e a política como territórios produzidos historicamente que não se opõem, mas que se atravessam e se constituem, estamos afirmando uma relação com o tempo-acontecimento, sempre provisória e múltipla; produção de devires, de-vir-a ser, de fluxos mutantes. (COIMBRA, 2003, p.14) Ao darmos relevo ao campo da interdisciplinaridade, pensando, a partir daí, o trabalho em rede, podemos perceber os movimentos do serviço em direção à qualificação e ampliação no modo de fazer clínica, na tentativa, sempre potente, de se reinventar. Agregar a dimensão política aos nossos fazeres torna-se essencial para descontruir o profissional suposto-saber e as hierarquias que assujeitam outros saberes, assim como para tornarmo-nos mais flexíveis aos fluxos que pedem passagem e que produzem torções e deslocamentos importantes em direção a uma psicologia comprometida com o social, pois que não há outra.

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