Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola
Sheila de Souza Staudt 85 responsabilizar pelo caso, visando maior efetividade em relação à demanda atendida. Temos aí uma prática que provoca a interdisciplinaridade no serviço e fora dele, e convoca o estagiário às realidades que caracterizam o trabalho em rede. A dimensão política está posta no momento em que o saber específico, tão bem circunscrito na academia, começa a dar lugar para uma clínica que aponta para o comum e que vai exigir do estagiário novos arranjos para contribuir e compor com a sua prática. Quando passamos a não olhar nossa prática de forma isolada e dual (aquele que sabe e aquele que recebe o saber), e sim como um campo de forças que nos afeta e que vai, aos poucos, tomando forma, passamos a aproveitar melhor esse lugar e o entendemos como construção, relação, troca, e não algo que já está dado e que precisamos apenas aprender a fazer. Passos (2013) aponta que “a idéia de produção de um comum na formação de trabalhadores em saúde nos obriga colocar em questão certo sentido da formação disciplinar, definida dentro dos limites do território e identidade disciplinar e sofrendo o perigo do isolamento”. Muitas vezes o pedido de ajuda que chega ao núcleo, denuncia aquilo que as instituições não conseguem dar conta e por vezes, isso reflete o quanto o trabalho em rede é uma diretriz importante que fala da complexidade do que temos hoje como campo de trabalho. Atentar para esse aspecto trás uma série de questões a serem pensadas num serviço escola. Como trabalhamos? Em que medida se dá a interdisciplinaridade? Como fazemos rede? Quais contradições nos constituem enquanto serviço? Em um serviço escola que transita entre aspectos do privado e do público, é preciso maior atenção no que diz respeito à ameaça do isolamento, pois as forças que o empurram mais para um lado ou outro estão sempre postas. Ancona-Lopez (1983 apud Campezatto 2007), ao falar das evasões em relação aos atendimentos em serviços-escola, aponta para as contradições que se apresentam nesse cenário. Segundo a autora, “tais instituições funcionam de forma bastante contraditória na medida em que a maioria da clientela que busca por atendimento psicológico é encaminhada ou permanece em longas listas de espera, sendo pouquíssimos os casos que recebem atendimento e alcançam os objetivos propostos” (ANCONA LOPEZ 1983 apud CAMPEZATTO, 2007, p.364). Questões essas que estão sempre em pauta no PAAS, no sentido de alargamento na forma de acolher e prestar atendimento. Sendo assim, as brechas que vão produzindo fissuras em nossas práticas mais tradicionais e cristalizadas vêm como ventos que vão, aos poucos, modificando a maré, no sentido de produzir ondas mais altas em direção a uma clínica do comum.
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