Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola
Sheila de Souza Staudt 83 político, muitas vezes relacionando-as estritamente à militância. Assim, cabe perguntar, que psicologia queremos fazer? (...) A psicologia, então, em sua pureza, não pode ser conspurcada pelo político. Ainda hoje, em alguns cursos de formação, trabalhos vinculados a questões sociais são percebidos como atuações políticas, que não deveriam estar relacionados à psicologia. Curiosamente, em alguns discursos psi, a dimensão social é mencionada, mas de forma abstrata, histórica ou dissociada, mantendo-se a oposição psicologia e política. Está configurado um território, um domínio de saber onde o poder, considerado neutro do especialista, se faz exercer. (COIMBRA, 2003, p.11) Para falar de política, penso ser importante destacar alguns aspectos que mobilizam a instituição, fomentando questionamentos e mudanças em direção a esse tema, ou seja, são “nós” os quais estamos sempre tentando desfazer, e que se transformam em outros, num fluxo dinâmico que não se encerra. Dentre esses, destacarei dois aspectos que permeiam o cotidiano do serviço: interdisciplinaridade e trabalho em rede. A partir de meu trajeto pessoal, foi possível perceber que a discussão que envolvia a dimensão política na prática clínica aparecia como uma camada menos visível no serviço, que transpassava, de um jeito ou de outro, todas as esferas, porém não adquiria força suficiente para vir à tona e tornar-se um fator de maior relevância; talvez porque a dicotomia psicologia e política ainda esteja muito cristalizada no contexto da saúde. Como dimensão política, ressalto as práticas referentes ao fazer psi e sua amarração com o contexto social, como também movimentos internos na própria instituição. Movimentos que digam de uma construção do acadêmico, fazendo com que ele possa exercer e ocupar posições de autonomia, de exercício crítico e democrático, ou seja, que ele componha a equipe a partir de um olhar amplo, localizando e reconhecendo sua prática em meio à rede de saúde e às problemáticas que a caracterizam. Ainda, podendo se posicionar e se relacionar com o sujeito que transita e sofre as forças desse contexto, a partir de uma postura não alienada pelo saber-poder e as especificidades que se encerram em si mesmas. A cada semestre em que estive presente no serviço, pude perceber essa camada submersa querendo emergir, e alguns movimentos se fizeram potentes nesse sentido, entretanto, diante de alguns fazeres que se caracterizam por essa movimentação, destacarei o Núcleo de Práticas Institucionais como um espaço que vem abrindo brechas e se configurando como um local de práticas que movimenta o instituído.
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