Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola
Camila Soares, Maíra Morelle Alves, Vanessa Medina e Viviane Gomes 75 não pensar nas diferenças que se produzem nos encontros com estes sujeitos, que não são minorias: negros, pardos, indígenas, idosos, pobres; no Brasil, são parcela grande da população. Tal diferença, não deve, nem precisa ser mascarada nos nossos encontros por meio de técnicas que procurem corrigir, ou mesmo culpabilizar individualmente os sujeitos por serem inadequados, ou por não disporem de mecanismos eficazes de adaptação para superarem sua condição. Miskolci (2006) afirma que tais lugares sociais, ou as diferenças de classe, etnia/raça e gênero, são historicamente construídas e percebidas como naturais, visíveis ao olhar. Trata-se portanto, de recolocar criticamente a questão social que os pacientes do grupo deflagram, frente à nós profissionais, como natural. Talvez não tenha sido devidamente discutido no Grupo de Trabalho, tal questão, mas a ética da crítica aos lugares reprodutores das formas de exclusão, que atravessa a atuação desta ação em saúde, esteve em alguma medida presente nos encontros; em atos, isto se traduz na resistência à recomendar modos de vida (alimentação, cuidados em saúde e rotina) não coerentes com a realidade dos pacientes; ou em outro exemplo à preocupação de que as orientações sejam entendidas devidamente pelos usuários para promover o autocuidado e não a dependência dos profissionais de saúde como produtores de verdades sobre a saúde ou a doença. Outro movimento na mesma perspectiva, ocorre no grupo quando, os saberes dos sujeitos, pacientes e familiares são ouvidos, e circulam com igual valor no grupo. Se bem os pacientes, fizeram juz à sua nomenclatura, ao esperarem o atraso de uns 15 minutos para o início do primeiro encontro do grupo e ao tempo que esperam o glicosímetro do estado (foi aproximadamente um mês), no decorrer do encontro mostraram-se bastante ativos e até um pouco impacientes. Essa posição assumida pelo grupo e sustentada, não sem resistências, pelo Grupo de Trabalho que planejou o encontro, possibilitou que as informações (necessárias sobre o diabetes e o aparelho) fossem circulando numa horizontalidade que abria espaço para as subjetividades emergirem. Uma técnica breve de apresentação, tomou o rumo que foi possível e ocupou o tempo inteiro do grupo. Apresentação, trocas pessoais e informação, assumiram o mesmo valor e por isso a quantidade de equipe não teve um efeito esmagador sobre os pacientes e familiares, fazendo fluir com mais leveza os saberes e os papéis componentes daquele grupo. Os paradigmas, as durezas e as transmutações Não pode-se afirmar no entanto, que um certo grau de demarcação de lugares, (evidenciado por profissionais de jaleco e outros sem jaleco, pacientes
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