Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola

62 Experiências do grupal: cartografia da criação d(n)o Grupo de Pré-adolescentes é capaz de reconhecer, imitar ou interpretar. Prontamente os pré-adolescentes escolheram dois lados para colocarem em cena seus conflitos: o do bem e o do mal. Dois deles seriam os investigadores, dois deles os “loucos perigosos do hospício abandonado” e nós seríamos as diretoras do teatro. Na preparação da cena dramática já percebemos a ansiedade dos jovens, principalmente dos que primeiramente iriam explorar o “manicômio” montado emnossa sala de grupos. Nitidamente via-se a aflição dos que estavam esperando para entrar e o gozo dos que estavam dentro para assustar os demais. Deixamos a cena se desenrolar. Percebemos o quanto a agressividade estava presente na transferência grupal. Quando propusemos uma parada da cena e a inversão de papéis, a dificuldade em fazê-los parar a cena foi um ponto a ser discutido: estariam eles sem controle? Constatamos que foi difícil dar um limite para o que estava sendo proposto. Quando retomamos a configuração do elenco com a troca de papéis, senti que os pré-adolescentes estavam à flor da pele, pois estavam vivenciando uma experiência muito intensa com a dramatização, chegavammuito perto da loucura, o que assustou a todos. Pavlovsky (1995) cita que o estado criativo do grupo é o terapêutico, a multiplicidade de sentidos da multiplicação dramática é, ademais, um feito estético, um ato criativo, terapêutico em si mesmo. Ao desenrolar-se cena teina com a “vitória” do bem. Sentamos e conversamos sobre os sentimentos que os haviam afetado neste momento de tamanha intensidade. Após a realização da cena, percebemos que tornou-se mais possível e talvez mais fáci colocarem em palavras o que estavam sentindo. Pensamos que o ato criativo e lúdico, assim como a segurança de que naquele espaço, com aquelas pessoas poderiam experimentar seus limites e suas potencialidades fez com que conseguissem falar sobre sentimentos e afetos, o que anteriormente nos parecia uma tarefa árdua e terrorífica. Pensamos o quanto foi possível criar caminhos para atravessá-los através da dimensão cênica e lúdica que o psicodrama instala. Pavlovsky (1995) afirma que o papel do analista de grupos infantis, além da interpretação, é o de facilitar a criatividade e a brincadeira, usando a dramatização não apenas como uma ferramenta capaz de expressar a repetição, mas também uma ferramenta capaz de promover um “brincar criativo”, um ato criador. Um convite à aprendizagem Após este tempo de trabalho podemos afirmar que o processo num grupo de crianças ou pré-adolescentes não se reduz à palavra ou ao material utilizado. Existem elementos tão ou mais importantes que a fala como o lugar, o brincar, a seleção dos dispositivos, códigos grupais. Os atravessamentos são

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz