Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola

Isadora Baldi Pastore, Márcia Batista e Lígia Hecker Ferreira 61 portanto saímos da sala e fizemos um piquenique no pátio do CCIAS 18 . Essa intervenção possibilitou uma aproximação que deu visibilidade à disposição dos pré-adolescentes de criarem vínculos mais sólidos, tanto conosco quanto uns com os outros e, gradualmente, a fala começou a ficar um pouco menos dura e os laços começaram a se estreitar. Após tal intervenção constatamos o quanto o espaço onde ocorrem nossas intervenções torna-se pequeno – A sala de Grupais – devido à tamanha energia que o setting é capaz de disparar. Pensamos também na importância de podermos lançar mão de um espaço maior como o pátio do CCIAS, para assim darmos mais vazão aos sentimentos e angústias do grupo. Este espaço maior também diz de uma maior possibilidade de expandir os processos subjetivos na maneira com a qual trabalhamos, não limitadas a quatro paredes do setting tradicional. Em um dos encontros de nosso grupo falávamos sobre os medos. Esses medos estavam presentes em todas as falas e chegavam aos nossos ouvidos através de fantasias dos pré-adolescentes. Essas falas, muitas vezes, eram advindas de terrores noturnos, ou sustos com filmes de terror, recheadas de conteúdos que, pouco a pouco, vinham mostrando como seus afectos se moviam. Ao mesmo tempo em que sentiam medo desses “espíritos”, “loucos,” “mendigos”, “zumbis”, “demônios”, mostravam-se gostando de filmes de terror, de vampiros assim entendíamos que com estas conversas e gostos vinham nos mostrando do terror que é a fase em que se encontram. Não seria a entrada para a adolescência repleta de medos e inseguranças? De corpos estranhos que morrem, se desconstroem e ao mesmo tempo crescem. Crescem seios, crescem pelos, crescem músculos…que medo que dá todos esses novos? Propusemos, então, encenar um pouco desses terrores, viver na pele a cena fantasiada: a dura tarefa de entrar em um manicômio cheio de “loucos perigosos”. A técnica utilizada foi a do psicodrama, a qual foi uma ferramenta valiosa que nos possibilitou vivenciarmos, na pele, estes medos vividos pelos adolescentes. Segundo Gonçalves (1988), o psicodrama entra na terapia infantil como uma forma específica de brincadeira – o teatro de faz de conta. Na representação dramática, agindo “como se” ou “fazendo de conta que”, a criança ou o jovem púbere expressa o que atinge sua sensibilidade, o que lhe dá prazer ou desprazer e vontade ou medo de aprender, revelando assim o sentido que o mundo tem para ela, ou revê, através de papéis imaginários, que 18 CCIAS trata-se do centro de cidadania e ação social da universidade do vale do rio dos sinos, local onde o PAAS está inserido fisicamente junto com outros projetos sociais disponibilizados pela universidade.

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