Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola

60 Experiências do grupal: cartografia da criação d(n)o Grupo de Pré-adolescentes enxergá-los, não perder de vista suas singularidades (sem deixar de olhar para o campo grupal) e não nos deixarmos simplesmente levar por este fluxo energético pré-adolescente. Além do imprevisível, nos deparávamos com outras características sobre modos de coordenar e olhar para o grupo, o que ia desenhando um cotidiano de vivências que não encontrava um planejamento fechado ou a longo prazo, mas algo do rizomático 17 ia se delineando como forma de produzir e viver processualidades. Os espaços, os dramas e os psicodramas Eu animava todas as personagens: Cavaleiro, eu esbofeteava o duque; Eu girava sobre mim mesmo; Duque, eu recebia a bofetada. (Sartre) Desde o início do grupo percebíamos a intensidade com a qual os corpos destes jovens vinham denunciando sintomas significativos. Quando a fala tornava-se pesada o corpo falava por si, às vezes em forma de uma agitação hiperativa, às vezes por momentos de agressividade. Porém, Pavlovsky (1995) nos alertava para o fato de que precisávamos nos familiarizar com o caos, com momentos tensos na clínica e, inclusive, a suportar esta ambiguidade que nos tomava como grupoterapeutas. Quando tais intensidades se afirmavam nas sessões nos causavam muito mal-estar e um certo sufocamento e então, perguntávamo-nos como lidar com isso? Como conter? Entendemos que seria preciso pensar em intervenções ou dispositivos que mais do que conter era preciso dar passagem a estas intensidades e afecções trazidas para o setting . Segundo Rolnik (1989) é tarefa do cartógrafo dar língua para afetos que pedem passagem, dele se espera basicamente que esteja mergulhado nas intensidades de seu tempo e que, atento às linguagens que encontra, devore aquelas que lhe parecerem elementos possíveis para a composição das cartografias que se fazem necessárias. Este princípio exigiu-nos movimentos de cuidado e sensibilidade enquanto coordenadoras para que pudéssemos acolher os movimentos que se produziam no processo grupal. A primeira dessas intervenções, num certo exercício de ensaio e erro, tateando os afectos, se deu na intenção de abrir canais de expressão, 17 Rizoma é um conceito criado por Deleuze e Guattari que visa compreender as maneiras com as quais os processos de subjetivação são produzidos. “Todo rizoma compreende linhas de segmentaridade segundo as quais ele é estratificado, territorializado, organizado, significado, atribuído, etc. (Mil platôs Vol.1. pg. 19, 1980)

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz