Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola
Isadora Baldi Pastore, Márcia Batista e Lígia Hecker Ferreira 59 estes sujeitos possam se desenvolver, para que a experiência possa desdobrar- se, para que possa ter lugar?” Perguntas como de que modo acompanhá-los nestas experimentações foram fundamentais para a construção das nossas intervenções e da eleição dos dispositivos que queríamos utilizar com aos pré-adolescentes. Afinal era preciso oportunizar a desconstrução de certos modos e acompanhá-los em experiências inéditas aquelas que seus pais não haviam podido lhes oferecer. “ ...esse ter cuidado, tomar-se o cuidado de cuidar, implica assumir uma função tão essencial quanto alheia a toda pretensão de ser causa na existência do outro; cuidar da possibilidade para que uma experiência tenha lugar é absolutamente diferente do que atribuir-se o poder –a onipotência- de causar uma experiência ao outro.” (p.58) Ao longo do caminhar do grupo estas preocupações foram se colocando e começávamos a enxergar melhor nossas funções como coordenadoras cartógrafas. Aos poucos íamos prestando mais atenção em nossas intervenções e nos efeitos que tinham nos meninos. Constatar que nós, coordenadoras, vínhamos crescendo e que aprendíamos muito uma com a outra, sendo a nossa sintonia fundamental para nossa comunicação inconsciente, o que muitas vezes apareceu ao pensarmos nas mesmas intervenções simultaneamente. Logo foi possível perceber que aquele espaço havia ganhado certa solidez muito rapidamente. Dificilmente os integrantes faltavam ao grupo, e quando o faziam relatavam sentir saudades dos demais. Os pais e/ou responsáveis estavam sempre por perto, esperando-os e fazendo contato com a coordenação quando necessitavam, facilitando a aliança do trabalho psicoterapêutico e podendo olhar para seus filhos. As reuniões com os pais eram realizadas uma vez por mês, o que nos permitia sentir, mais de perto, as variadas histórias de vida dos jovens. Lancetti (1995) aponta que, além do acompanhamento do processo lúdico e expressivo do grupo de meninos, outra via para o entendimento do processo grupal é a realização de grupos de mães e pais, que permite captar coincidências fantasmáticas e reorientar permanentemente o trabalho. Nestas reuniões, além de olharmos para o processo terapêutico de cada um deles, nos sentíamos à vontade para problematizar com os pais ou responsáveis questões referentes às demandas relacionais, às quais percebíamos necessárias para dar maior consistência ao trabalho terapêutico, expandindo nossa intervenção para além de nossas paredes institucionais. A capacidade de suportar o imprevisível era uma característica marcante de nossas vivências com o grupo. Víamo-nos tendo que nos reinventar constantemente, pensar em novas atividades, novas maneiras de
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