Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola
58 Experiências do grupal: cartografia da criação d(n)o Grupo de Pré-adolescentes diferente, íamos deixando de ser as ‘profes, nomeação homogeneizadora e íamos, nós e eles, podendo ser percebidos singularmente o que lhes permitia vivenciar outros modos de comunicação, chamavam-nos por nossos nomes ou ainda por apelidos que foram permitindo-se a criar. Enfim, criavam-se novos sentidos, tanto no modo como íamos sendo grupoterapeutas como íamos possibilitando que fossem sujeitos, tomassem a palavra, deixando a infantilização para trás. Entendíamos que o exercício deles tomarem a palavra era fundamental para serem capazes de enfrentarem esta passagem, era preciso abandonar a posição de in fans, ou seja, de quem não fala para poder dizer do seu desejo, para singularizar-se, para que as alteridades se afirmassem. Desta forma, tínhamos tensão e movimento que apesar da angústia que nos gerava enquanto coordenadoras aprendizes, fazia com que, em alguns momentos, irrompesse o que estava bloqueado, libertando da mesmice de sentidos, deslocando lugares, fazendo com que novos agenciamentos acontecessem, produzindo alegria 16 entre nós. (BENEVIDES, 1995). Ao mesmo tempo em que precisávamos lembrar-nos de nossa tarefa como psicoterapeutas e não professoras, ou cuidadoras havia momentos nos quais nós, coordenadoras, ficávamos com dúvidas em como intervir no grupo, pois sabíamos que, simultaneamente, precisávamos acolhê-los em suas demandas, às quais, muitas vezes, vinham em forma de agressividades e hiperatividades por parte dos meninos ou de passividade e silêncio nas meninas. Bleichmar nos auxiliou a pensar nosso fazer quando afirma que “todo grupo é como um sistema de intercâmbio de reconhecimento narcisista, e que talvez o grupo de crianças seja um de seus exemplos mais paradigmáticos”(..) Em vista das dificuldades específicas que acontecem neste campo grupal, “a facilidade e a rapidez que se cai em climas grupais agressivos ou de hiperatividade generalizada, que impedem a mínima intervenção terapêutica, devendo-se recorrer, então, à enérgica colocação de limites”. (p 44, 1995). Percebemos que os limites ou regras que estávamos propondo eram importantes para que o trabalho terapêutico pudesse ter vazão sem perdermos de vista nossa função como terapeutas. Mas também íamos apreendendo que não eram só limites que aqueles meninos e meninas precisavam, era necessário oferecer-lhes um espaço acolhedor de holding, onde pudessem perceber-se diferentes, experienciar outros modos. Com nos ensina Winnicot precisavam de um espaço de cuidado ou ainda como afirma Rodulfo era fundamental estarmos atentos “a como se cuida uma experiência para que 16 Espinoza afirma que quando um corpo compõem com outro corpo, uma substância com outra substância o que temos é o aumento da potência daquele corpo e um movimento de expansão da vida que ele chama de encontro alegreou bom encontro.
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