Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola

Isadora Baldi Pastore, Márcia Batista e Lígia Hecker Ferreira 57 abafassem ou silenciassem as falas que se ensaiavam mas que fossem vividas através de dispositivos facilitadores e passíveis de oportunizar a experiência terapêutica. Procuramos construir intervenções que pudessem intermediar a fala e os conflitos vividos nesta idade. Estas intervenções nos convocavam a pensar a clínica e o fazer psicológico de uma maneira lúdica e sensível, nos reinventando e nos aprimorando a cada encontro. Propusemos que fosse um grupo dispositivo e, como nos indica Deleuze, ao tomar a noção de dispositivo a primeira consequência “é o repúdio dos universais e a segunda é a mudança de orientação que se desloca do eterno para apreender o novo” (p. 79, Deleuze apud Kastrup e Barros) significando a não ligação do grupo à ideia de unidade ou totalidade, mas com processualidade, como um emaranhado de linhas cruzadas pelas histórias que nele se encontram. Como o dispositivo-grupo incide na linha de subjetivação-indivíduo (BENEVIDES, 1995), o que não se trata de ligações entre diferentes pessoas, mas entre modos de existência que diferem, fomos criando um campo de trabalho onde confrontos e perguntas eram capazes de fazer rachaduras nos modos cristalizados deste meninos e meninas estarem no mundo. Propor o grupo como dispositivo foi poder pensar uma “série de práticas e de funcionamentos que produzissemefeitos” (Kastrup eBarros). Era olhar para os modos concretos de como se davam os agenciamentos e como estavam constituídos os territórios existenciais daqueles pré-adolescentes, de suas famílias e dos ambientes escolares em que faziam parte. Desta forma, o trabalho consistiu em acompanhar tais linhas e ir acolhendo os modos instituídos, sintomáticos que iam se apresentando em nossos encontros, íamos cartografando os pontos de endurecimento, os trajetos que se repetiam nos discursos e atos, bem como analisávamos a diversidade de cruzamentos e possíveis pontos de deslocamento, bifurcação que iam se configurando. Ou seja, coordenar um grupo dispositivo implicava em oportunizar aos pré- adolescentes, a experimentação da ampliação ou deslocamento dos limites daquilo que estava formatado, determinado, procurando acompanhá-los a expandirem suas bordas e verdades em relação aos outros, ao mundo e quanto a si mesmos auxiliando-os a desviarem-se das linhas e riscos de recodificação (seus discursos e práticas preconceituosas, de exclusão ou agressivas). Foi evidente o quanto tivemos que fazer uma torção nos tradicionais modelos que se reproduziamnogrupo, pois os pré-adolescentes, contaminados com a instituição escola e várias outras das quais são atravessados, muitas vezes, nos confundiam com “professoras”, igual a tantas outras. Porém, aos poucos, podíamos perceber que nossos nomes apareciam de uma forma

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz