Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola

56 Experiências do grupal: cartografia da criação d(n)o Grupo de Pré-adolescentes Com efeito, o interessante para observar é como esta significação penetra, se enlaça e se articula desde o princípio no profissional, nos grupos de crianças e em especial no material lúdico. Falamos então de um verdadeiro atravessamento institucional grupal, no sentido de que a ordem instituída produz e reproduz inconscientemente, nas pessoas, nos vínculos e até nas coisas, formas de dominação e exploração da subjetividade transformadora que emerge no processo grupal. (Volnovich, 1995, p.66) O processo de cartografar vivências Inicialmente, o grupo foi marcado por certa timidez dos integrantes, obviamente, não é tarefa fácil para quem está saindo da infância, cheia de fantasias e artifícios lúdicos, participar de um grupo psicoterápico, que lhes convoca a se apresentar e conversar sobre sua vida. Isso tornou-se evidente nos primeiros minutos, e convocou-nos a ser cautelosas em todas nossas intervenções a seguir, afinal tínhamos consciência de que precisávamos misturar falas, jogos e brincadeiras. Portanto, propusemos uma atividade 15 , que não foi muito bem aceita pelos participantes, que ficaram se olhando em silêncio, achando aquilo tudo muito estranho. Aos pouquinhos, muito timidamente, eles foram pegando as tintas e os materiais para montarmos um “Painel dos desejos do grupo”. Percebemos, então, que as pessoas mais animadas com o grupo éramos nós, coordenadoras, o que nos rendeu algumas piadinhas sobre nós mesmas após o término da primeira sessão, pois nos sentimos completamente fora de época. Apesar de saber que alcançar a possibilidade de chegar à materialização fosse resultado do processo grupal, viemos com nossas concepções e ideais de aprendizes propondo que aqueles meninos e meninas sem fala tomassem a palavra e, no primeiro encontro, abandonassem todas suas amarras e posição sintomática que lhes tinham trazido até ali e pudessem nomear e dar voz para seus desejos. Realmente nossa proposta era muito bem intencionada, mas sua viabilidade? Impossível!! Nos colocamos a pensar… A primeira inquietação de coordenadoras deu-se nesse sentido, pois apesar de querermos experimentar e viver esta experiência nova no campo grupal, os acontecimentos provocavam uma interrogação e uma sacudida em relação àquilo que se poderia realizar. Como fazer desse espaço um espaço terapêutico, mas ao mesmo tempo lúdico e dinâmico - um espaço onde eles quisessem realmente estar? Enquanto equipe tínhamos a preocupação de ir experimentando e sentindo o grupo de modo que as intervenções não 15 A atividade proposta foi uma apresentação lúdica, a partir de objetos que havíamos levado dentro de um baú como máscaras e tiaras.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz