Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola
Isadora Baldi Pastore, Márcia Batista e Lígia Hecker Ferreira 55 se consolidou ainda mais no momento em que os vimos, sozinhos e com seus pais ou responsáveis. Foi possível dimensionar a importância de ver e ouvir aqueles que seriam nossos pacientes, e não escutar somente a voz dos pais, o discurso que os colocava em um determinado lugar, saindo do plano do imaginário, da criança vista pelos olhos da família, e ter a perspectiva dos não ditos vindos através da expressão corporal e facial daqueles meninos e meninas. Segundo Rodulfo (1990), a questão do que consiste uma criança nos remete à sua pré-história, às gerações anteriores, ao que precede essa criança com todas as suas problemáticas e os ocorridos, que serão determinantes para esse ser, mesmo antes de existir. Outro movimento que as primeiras coordenadoras 12 deste grupo destacam é que o Grupo não iria acontecer na sala de espelhos 13 como de costume, e sim na sala do Núcleo de Grupais, dando maior liberdade de experimentação e criação. Essa opção foi levantada em supervisão e trouxe imenso alívio, pois incomodava a ideia do espelho, pelo caráter de repetição que parecia estimular e também pelo aspecto asséptico que a sala de espelho tem. Sair da sala de espelhos concretizou o espaço físico grupal, o que significava paredes marcadas, objetos que poderiam ser encontrados na semana seguinte, fotos e trabalhos expostos..., materiais novos e diferentes que então não cabiam na outra sala. Tratava-se de uma sala que eles se apropriariam, não uma sala onde outros grupos aconteciam e, ao término, deveria estar “limpa” 14 , como se nunca tivesse sido ocupada. Esse espaço foi tão acolhedor a ponto de terem podido deixar ali suas produções, desenhos colados pelas paredes, fotos no mural de exposição assim como se expandir para além dele, explorando outros espaços fora da sala, assim como, podendo retornar a ele. Foi gratificante perceber como algo de artesanal nos dias atuais poderia ativar aqueles pré-adolescentes. E a nós equipe que sem perceber estávamos acostumadas com fazer grupo só com aquilo que tínhamos nas salas. Volnovich (1995) aponta sobre os atravessamentos institucionais em grupos com crianças, a partir da análise sobre os materiais necessários para se trabalhar e as possibilidades da instituição em adquirir os mesmos. 12 Marcia Batista e Sheila Staudt 13 Os grupos nesta instituição aconteciam exclusivamente na sala de espelhos, geralmente acompanhados por uma equipe multidisciplinar e com discussões pós-atendimentos 14 Este jeito de manter a sala de espelho, limpa e asseptica foi tema de problematização no Núcleo de Grupais. Pois vimos que havia aí uma certa ideia de imparcialidade, neutralidade que atravessava as práticas dos estagiários e de seus grupos. Com isto fomos enunciando a vontade de ter uma sala mais apropriada para o trabalho de grupos, especialmente com crianças e adolescentes. Foi quando o a equipe do Núcleo resolveu pintar e constituir a Sala de Grupais, onde vários grupos acontecem hoje. Mas esta discussão talvez mereça ser mais explorada em outro momento.
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