Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola

Isadora Baldi Pastore, Márcia Batista e Lígia Hecker Ferreira 53 Como começou... Este grupo começou a constituir-se a partir de questões trazidas por algumas crianças que integravam a Oficina de Contos do Serviço até o ano de 2012. Crianças que cresceram e diminuíram seu interesse pelos temas e dispositivos propostos no espaço terapêutico do qual faziam parte, a Oficina de Contos 6 trazendo inquietações e um certo incômodo em seguir ali. Naquele momento, nós supervisores e coordenadores da Oficina, íamos problematizando junto ao Núcleo de Grupais a importância de, ao invés de encaminharmos algumas das crianças que cresciam para atendimento individual, seguirmos trabalhando com elas em grupo. Pois sabíamos o quanto se beneficiavam deste dispositivo de troca, socialização e de se construir ludicamente na relação com suas dificuldades e com o outro. Entretanto, os Contos iam perdendo o sentido, iam se desinteressando pelos contos. Eles vinham sempre, mas ao invés dos contos pegavam jogos para jogar, outros brinquedos, queriam sair da sala, correr no pátio, descobrir o que havia no prédio, queriam explorar mais e mais afinal estavam crescendo os limites do corpo e do espaço estavam alterando-se o que incomodava a coordenação. Aos poucos, fomos percebendo e permitindo novas explorações no pátio, nos brinquedos e nas brincadeiras,se experimentavam de outros modos. Foi quando nos demos conta que estavam crescendo, mudando, virando adolescentes. E agora como fazemos? Obrigamos eles a ficar na sala ou ampliamos nossa escuta, olhar e deixamos que ampliem seus caminhos, explorações. Então nos encontramos com o texto de Bleichmar (1995) que afirma que uma idade especificamente crítica para a psicoterapia é justamente este período, compreendido entre a latência tardia e a puberdade inicial (10-11 a 13-14), pois durante esta fase a criança já não brinca, mas também não pode sustentar um discurso que exponha e discuta seus problemas de forma consistente e séria. Considerando esta transição das então crianças percebíamos a pertinência de seguirmos atendendo-as em grupo, mas teríamos que, nós enquanto equipe, ampliar nossos conhecimentos e olhares, precisaríamos lançar mão ou mesmo criar novos dispositivos e linguagens clínicos capazes de interceder 7 a favor de seus interesses, de seu processo terapêutico que produzisse sentido para os agora pré-adolescentes como passamos a chamá-los. 6 A Oficina de Contos do serviço, é também de caráter terapêutico para crianças na faixa etária de 4 a 8/9 anos. 7 Intercessor é um conceito desenvolvido por Deleuze onde ele diz: O essencial são os intercessores. Sem eles não há obra. Podem ser pessoas, mas também coisas, plantas, animais, fictícios ou reais, animados ou inanimados. É preciso intercessores para se exprimir. É aquilo ou aquele que intercede a favor do estranho. (Conversações, 1992)

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