Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola
52 Experiências do grupal: cartografia da criação d(n)o Grupo de Pré-adolescentes Agora eu era o rei Era o bedel e era também juiz E pela minha lei A gente era obrigado a ser feliz E você era a princesa que eu fiz coroar E era tão linda de se admirar Que andava nua pelo meu país (João e Maria - Chico Buarque) Introdução Opresenteartigosepropõeacompartilhar aexperiênciadeconstituição e alguns dos efeitos de um grupo terapêutico de pré-adolescentes da clínica escola da Universidade do Vale do Rio dos Sinos- PAAS que teve seu início em 2013. Atualmente o grupo encontra-se na sua segunda configuração e, devido ao seu caráter terapêutico, vem sendo coordenado por duas estagiárias de psicologia 4 , apesar de estar vinculado a um núcleo interdisciplinar de Grupos. A metodologia adotada por nós para construção deste grupo foi a cartografia, portanto, o leitor irá encontrar-se no percurso da leitura com conceitos que foram nos auxiliando a compreender e a dar consistência às percepções e construções que íamos fazendo. Portanto, chamamos de cartógrafas 5 as coordenadoras que acompanham semanalmente durante uma hora e quinze minutos, de seis a oito pré-adolescentes que chegam ao Serviço por solicitação dos pais ou de suas escolas devido a dificuldades que se fizeram presentes no ambiente escolar ou familiar. Estas dificuldades foram cartografadas individualmente nas sessões de acolhimento e em entrevistas individuais com os pais, sendo mais referidos os problemas de aprendizagem, de relacionamento e a agressividade. 4 A primeira dupla de coordenação foi composta por Márcia Batista e Sheila Staudt graduandas de psicologia e a segunda dupla de coordenação foi Bruna Ghiorzi e Isadora Pastore. Como falaremos deste tempo do grupo vamos nos utilizar na narrativa da primeira pessoa do plural, pois assim damos visibilidade à construção coletiva que foi sendo feita por todas nós em conjunto com a orientadora local, Lígia Hecker Ferreira. 5 Cartografia é um conceito criado pelos autores Gilles Deleuze e Félix Guattari (1995), para estudar a dimensão processual da subjetividade e de como se dá sua produção. Como a cartografia não se vale de regramentos ou objetivos estabelecidos previamente, não caminhamos em direção a metas pré-fixadas, mas para a construção do percurso no decorrer da experiência, de modo que não era possível separar o conhecimento do fazer. Fazendo, íamos conhecendo, íamos nos misturando no jogo de forças dos encontros. Não havia suposição de realidade, havia o transformar para conhecer e não o inverso, conhecer para transformar. Neste sentido cartografar para nós tem sido uma atitude, não uma aplicação teórica ou técnica. (BENEVIDES; PASSOS, 2010).
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