Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola
48 Os desafios da prática interdisciplinar nas perícias psicológicas: relato de experiência fracasso, não lhes permitiam refletir sobre a repercussão e consequências de suas “brigas” no desenvolvimento das crianças ou mesmo dos adolescentes. A ideia que permanecia ao longo dos encontros é que estava instalada uma disputa não para pensar na melhor alternativa para o bem estar do filho envolvido, mas sim na melhor forma de fazer com que o genitor “opositor” ficasse em desvantagem, mesmo que para isso a integridade dos filhos fosse sacrificada. Não acreditamos que esse processo se dê de modo controlado, consciente, mas nem mesmo assim ele é menos comprometedor. Considera- se que, apesar das crianças não estarem diretamente envolvidas nesses litígios, elas, na maioria das vezes, foram colocadas como alvos ou pivôs desses conflitos, prejudicando de maneira significativa seu desenvolvimento. O outro aspecto a ser destacado está relacionado ao ganho secundário existente na abertura de um processo judicial, ou seja, o quanto o pedido existente encobre situações veladas, ainda mais significativas. Assim, ao encaminhar para tratamento psicológico uma criança que foi abusada, como se ela fosse a única responsável por isso, se pode estar encobrindo uma grande falha e negligência parental, não falada, não considerada, como demonstrado num dos casos descritos. O quanto conflitos pré- existentes ao litígio ou mesmo formas de funcionamento pessoal e/ou familiar devem ser considerados, apontados e entendidos, nas perícias psicológicas, na tentativa de contribuir com a saúde mental de todos os envolvidos. Proteger a criança e o adolescente e garantir seus direitos de conviver com ambos os pais após o rompimento conjugal, ou de ser protegida e cuidada é um dever da sociedade e, dentro deste contexto, a parceria entre Direito e Psicologia torna-se oportuna e importante. Essas duas áreas do saber possuem conhecimentos que, no contexto pericial, se complementam. Conforme Rodrigues, Couto e Hungria (2005), num artigo que discutem a influência dos laudos psicológicos nas decisões judiciais, em “94,23% dos casos, a sentença demonstrou que o laudo contribuiu para a decisão judicial” p.31. Entendemos que, cada vez mais os juízes estão utilizando os laudos psicológicos para subsidiar suas práticas, por reconhecer que este trabalho complementa e sustenta suas decisões. Além disso, entendemos que através das perícias psicológicas identificamos conflitivas latentes que certamente auxiliam os juízes nas suas decisões em relação ao futuro das crianças e dos adolescentes, especialmente devolvendo-lhes o direito de se desenvolverem dignamente, de forma que possam ocupar o lugar de sujeitos de suas vidas. Desta maneira, são cumpridas as leis, garantidas pela Convenção do Direito da Criança e Adolescente, pela Constituição Federal Brasileira e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (PAULO, 2010).
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