Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola
46 Os desafios da prática interdisciplinar nas perícias psicológicas: relato de experiência identificamos que as demandas processuais expressas encobriram conflitivas por vezes muito diferentes das enunciadas e que se tornaram evidentes na avaliação psicológica. Dentre as temáticas frequentes que emergiram destas avaliações psicológicas, foi possível destacar as conflitivas intrafamiliares, especialmente aquelas advindas de separações não resolvidas, situações de alienação parental e negligência familiar. No que se refere às conflitivas familiares, percebemos situações relacionadas a um alto grau de dependência entre mãe e filho. Entendemos que esta forma de relação prejudica a constituição do sujeito e, consequentemente, sua interação com o outro e o mundo, fundamentais para o seu desenvolvimento. “A alternância entre presença e ausência, sobretudo da mãe, tem importância fundamental para a subjetividade da criança. O próprio fundamento da subjetividade depende do jogo desses dois fatores.” (CHECCHINATO, 2007, p. 83) Outro aspecto a ser considerado diz respeito às histórias não resolvidas dos pais que se repetem com os filhos. Como exemplo, podemos destacar uma mãe que impedia a filha de construir sua autonomia e de fazer suas escolhas. No decorrer da avaliação constatamos que esta mãe, quando criança, não conseguiu desenvolver sua própria autonomia, pela superproteção materna. “Parto da afirmação do sintoma da criança como expressão da verdade do par familiar e do fantasma dos pais”. (MEIRA, 2004, p. 31) Em relação à Síndrome de Alienação Parental (SAP), esta foi definida na década de 1980, pelo psiquiatra norte americano Richard Gardner, como um distúrbio infantil relacionado a crianças e adolescentes envolvidos em situações de disputa de guarda entre os pais, quando um dos genitores – nomeado como alienador – realiza uma “campanha” para que a criança rejeite o outro responsável e, diante disso, ela se torna submetida e dependente por medo de desagradar o genitor (SOUSA & BRITO, 2011). Como consequência deste contexto, são apontadas dificuldades de convivência com a realidade, destruição e/ou comprometimento dos vínculos, sem que exista, necessariamente, motivos reais para isso (SOUSA & BRITO, 2011), além de conflitos de lealdade e sentimento de desamparo (BACCARA, 2013), o que prejudica significativamente o desenvolvimento emocional das crianças e adolescentes. Através de nossa prática identificamos que as crianças e adolescentes que sofrem alienação parental têm seus direitos violados e desrespeitados, deixando de ser percebidos como sujeitos e tornando-se objetos de satisfação
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