Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola

30 Abracadabra... que apareçam as crianças: o relato da criação de novas formas de acolher do PAAS Nesse sentido, a partir de uma leitura psicanalítica, Winnicott (1982) traz-nos o conceito de holding para pensarmos o acolhimento. O autor utiliza este termo para especificar uma forma singular de amar e que se traduz na essência do cuidado materno. Este cuidado, que é físico e emocional, estabelece uma provisão ambiental (ambiente suficientemente bom) que é organizadora para a criança e permite que se desenvolva de forma sadia, proporcionando-lhe com isso a sensação de integridade e continuidade de ser. Assim, o holding implica, acima de tudo, em confiabilidade em um outro, no sentir-se seguro e sustentado. Paraque amãepossadesempenhar essa função (demãe suficientemente boa), precisa identificar-se com seu bebê para ser capaz de perceber e prover o que ele necessita, em termos de holding (sustentação) e provisão de ambiente. Ou seja, a mãe suficientemente boa possibilita a integração do ego da criança através do cuidado que neutraliza as ansiedades e angústias do desenvolvimento no descobrir-se como outro ser, o que é ela e o que não é. Nessa perspectiva, prover o ambiente estabelece condições para impulsionar o desenvolvimento da criança que se dá num movimento de forças que vêm de dentro da própria criança (WINNICOTT, 1982; ALEXANDRE, 2006). Nas fases posteriores do desenvolvimento, o holding continua a ser importante na medida em que o ambiente pode tornar-se instável e ameaçador, desestabilizando com isso o indivíduo e provocando a sensação de desintegração. Nestas situações, o holding tem a função de manter o indivíduo em movimento, no sentido de sentir continuar a ser. Reportando- nos para a prática do acolhimento no PAAS, podemos pensar o acolhimento como uma espécie de holding institucional, à medida que nos constituímos para este usuário como a possibilidade de um ambiente suficientemente bom, que desempenhe as funções de acolher, receber, hospedar e agasalhar. Um ambiente de cuidado que exerça a função de sustentação e continência, e que lhe proporcione a possiblidade de adaptação e desenvolvimento (WINNICOTT, 1982; BION, 1970). Sobre a infância, Winnicot (1994) afirma que a criança que sofre por uma falha do ambiente e que não consegue entendê-la acaba desenvolvendo sentimentos de raiva e abandono, o que o autor chama de privação. Perante esta privação, a criança cria movimentos e atos para avisar ao meio de que está aguardando por proteção. Desta forma, podemos desempenhar a função de um cuidar, forne- cendo um ambiente que possibilite a concretização dos impulsos da criança para sua adaptação gradativa às necessidades que se apresentam e para o seu desenvolvimento emocional. Neste sentido, identificar suas necessidades e

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