Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola
Marili Adelaide de Azeredo Burzlaff e Rosana Cecchini de Castro 29 palavras, relatarem suas aventuras e suas queixas em relação a pai, mãe, avós e professores. A partir de nossas experiências, posteriores aos encaminhamentos, tínhamos notícias de que, eventualmente, a criança que havíamos encaminhado não apresentava as dificuldades ou as necessidades trazidas pelos pais ou cuidadores no acolhimento. Em supervisão, posteriormente, discutimos o que havia sido percebido neste primeiro contato. Identificamos a dificuldade de alguns pais para interagir com seu filho e a ocorrência de alguns sintomas descritos pelos pais como “doença” do filho, constatamos que representavam apenas movimentos saudáveis de possibilidade de vida dos pequenos. Por isso, este momento foi de grande importância para podermos avaliar o que realmente as crianças traziam. Foi relevante também poder identificar e poder separar o que era a dificuldade delas, e o que era a dificuldade dos pais. Mannoni (1981) ressalta sobre a dimensão simbólica do sintoma da criança, onde as dificuldades dos pais escondem-se, por vezes, por trás do sintoma dos filhos. No terceiro e último encontro, chamamos somente os pais para fa- zermos os encaminhamentos. Neste encontro, à medida que dávamos as devoluções, íamos questionando-os sobre como estavam recebendo nossas percepções, no intuito de também implicar-lhes no encaminhamento e com- prometer-lhes no tratamento. No que diz respeito às crianças, a participação direta dos pais é prevista não só no que diz respeito ao tratamento psicote- rápico como em qualquer outra área em que for necessária uma interven- ção, pois com crianças trabalhamos em um campo estendido, e lidar com possíveis resistências neste momento pode ser importante (MEIRA, 2009). Ressalta-se que atualmente essa modalidade de acolhimento de crianças segue acontecendo. O acolhimento como holding: o cuidado do ambiente A mãe suficientemente boa também não existe sem os outros. Ela não existe sem um campo sócio-cultural, que lhe dê possibilidades de exercer funções. A boa maternagem, assim como suas falhas, tem origem na mãe, no pai, nos ancestrais, na situação social que a mãe se encontra, nas características de sua cultura e de sua época. (SAFRA, 1999, p. 139). O acolhimento é um termo utilizado principalmente pela saúde coletiva e está intimamente ligado à capacidade de afetar e ser afetado na relação que se estabelece no encontro, de suportar a própria dor ao entrar em contato com a dor do outro e de atuar como uma mãe suficientemente boa (GUIMÓN, 2002).
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