Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola
28 Abracadabra... que apareçam as crianças: o relato da criação de novas formas de acolher do PAAS se constitui num contexto de desenvolvimento para estes pequenos usuários e, por isso, pode exercer uma função protetiva, garantindo-lhes, assim, seus direitos. Durante as supervisões, repensamos várias maneiras de como poderíamos fazer deste momento um encontro que efetivamente acolhesse as crianças. Legalmente, os pais ou os responsáveis é quem devem vir contatar o serviço. Achamos importante escutá-los num primeiro momento. As queixas dos pais, por vezes, conduzem-nos à problemática deles próprios e não da criança. Por isso, ouvir os dois discursos é importante porque nos tornamos o elemento separador do que é a dificuldade dos pais ou da criança, mas sem desconsiderarmos este entrelaçamento que ocorre do sintoma da criança às fantasias parentais (ZORNIG, 2001; MANNONI, 1981). Desta forma, escutar os pais, possibilita-lhes que falem de suas dificuldades, o que pode tornar este momento um espaço organizador e consequentemente interventivo. Neste dia, ainda, ressaltamos a importância de conversarmos também com seus filhos e acordamos com eles, então, de trazer os filhos na próxima semana. No segundo encontro, acolhemos em grupo, num primeiro momento, pais ou cuidadores com seus filhos, momento em que propusemos uma atividade para poder avaliar sua interação. Sentados em círculo, a tarefa proposta foi a de que pais e filhos desenhassem, juntos, o que quisessem num grande cartaz que havíamos colocado no chão. Logo em seguida, pedimos que os pais se retirassem e utilizamos o brinquedo como dispositivo para escutarmos as crianças, pois o brincar é um dispositivo natural universal e se constitui numa valiosa ferramenta para a técnica psicanalítica, pois é a forma pela qual a criança se comunica consigo mesma e com os outros. Para isso, disponibilizamos diversos brinquedos e também material de desenho (WINNICOTT, 1975). As crianças rapidamente estabeleceram um vínculo com os coordenadores e entre elas, facilitando a tarefa proposta, que era poder falar sobre o que faziam ali e sobre si. Durante o brincar, trouxeram, através da fala, algumas angústias que até então eram manifestadas por sintomas. Desta forma, este espaço passou a se constituir naquele momento como interventivo, na medida em que novos sentidos puderam ser construídos para suas dificuldades. Esta oportunidade oferecida às crianças abriu, portanto, a possibilidade de poderem questionar-se e verem-se questionadas pelo outro, de identificarem-se e de falarem de suas dificuldades com suas próprias
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