Os desafios da prática interdisciplinar em um serviço escola
22 Abracadabra... que apareçam as crianças: o relato da criação de novas formas de acolher do PAAS na qualidade de assistência ao usuário, que possibilite uma melhor relação usuário/trabalhador, a potencialização do vínculo e, consequentemente, uma melhor adesão ao tratamento (COIMBRA, 2003). Segundo Mehry et al. (2004), o acolhimento é um “trabalho vivo no ato” que ocorre no momento singular do encontro dos sujeitos e, por isso, pressupõe-se que pode ser organizado nos diferentes serviços de saúde de maneiras variadas e exercido por seus profissionais de forma peculiar, uma vez que é isso que, efetivamente, vai caracterizá-lo e individualizá-lo enquanto serviço. Nesse sentido, o autor utiliza o termo “trabalho vivo no ato” para designar o trabalho que se expressa através das relações, no encontro entre as subjetividades, e por isso é imprevisível, o que permite novas formas de agir. Sendo assim, este trabalho relata minha experiência como membro do Núcleo de Acolhimento Permanente do PAAS e como participante na construção desta prática, propondo uma reflexão sobre a relevância deste espaço nos serviços de saúde, uma vez que pouco foi encontrado sobre este fazer (acolhimento de crianças em serviços de saúde) e neste formato em trabalhos publicados nesta respectiva área. Um primeiro olhar para a prática de acolhimento Pensando na prática de Acolhimento no PAAS, algumas palavras são de extrema importância nesse processo: acolher e integrar. “Acolher” é uma palavra que se origina do latim, accolligere , e que, segundo o dicionário Aulete Digital (2014), significa dar ou receber abrigo, proteção, agasalho, dar ou ter acolhida, hospitalidade e receber – reagindo de certa maneira ao que se recebe. “Receber”, por sua vez, é sinônimo de “recolher”, que pode ter o sentido de retirar (proveito de algo), de reunir (o que está disperso). Mas também pode ser usado no sentido de “abrigar-se”, quando queremos dizer que vamos voltar para casa ou, ainda, pode significar “desaparecer aparentemente”, no caso de uma doença, quando se volta para dentro, para um órgão (ACOLHER, 2014; RECEBER, 2014). O acolhimento é chamado por Mehry et al (1997) como tecnologia das relações, uma vez que opera criando um modo próprio de gerir os processos, agindo de uma certa maneira em ato. Por isso, o acolhimento não deve restringir-se apenas às competências e tarefas técnicas, uma vez que se caracteriza, segundo os autores, em uma tecnologia leve e, como tal, tem como premissa a produção de relações interativas. Nessa perspectiva, a produção de vínculos que se estabelecem de forma intersubjetiva e a escuta que é feita do sujeito é que constituem este momento (PINHEIRO, 2009).
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