A saúde mental em evidência: narrativas de um caminho utópico

94 Capítulo VI – Assédio moral e ética no trabalho que foi somente uma brincadeira ou que houve mal-entendido, ou às vezes, coloca-se na condição de vítima, afirmando que a pessoa está vendo ou ouvindo coisas, que está com paranoia, que é louca, que é muito sensível, que faz confusão, que é muito encrenqueira ou histérica, entre outros motivos alegados (MENEZES, 2003 apud PAROSKI, 2007). Em alguns espaços desse exercício, a residente teve pouca possibilidade de opinar ou fazer questionamentos e até mesmo dar novas ideias. Muitos serviços estão dogmatizados com suas verdades e práticas instituídas e têm dificuldade de aceitar novos posicionamentos. Assim como as opiniões e questionamentos das residentes não tem muito lugar, o próprio trabalho dessa profissional em formação também não tem lugar. É comum encontrarmos espaços físicos impróprios ou serviços que não propiciam ferramentas para esse processo de trabalho. Embora desejem a Residência no serviço, não se pensa o investimento que é necessário, não se considera que é uma nova profissional e que por isso precisará de um espaço para atendimentos. O lugar da preceptoria (que ocorre entre residentes e serviço) também é preciso ser pensado, a profissional preceptora, precisa ter a sensibilidade de compreender o processo de formação. Muitas vezes nos deparamos com questionamentos sobre as saídas semanais de campo para as tutorias (que ocorrem entre residentes e Universidade), que não eram/são em dias e turnos fixos, ou mesmo para eventos formativos, como: seminários e colóquios. São inúmeros os exemplos que poderíamos trazer de experiências que vivenciamos na Residência relacionadas a assédio moral. Fazemos uma reflexão do fato de que em serviços da saúde mental os(as) profissionais também estarem adoecidos(as) em relação à sua saúde mental, e não observarem o quanto essa prática reflete negativamente no processo formativo e de trabalho das residentes que estão sob sua supervisão e responsabilidade. Queremos refletir também sobre a ética profissional que implica diretamente em nossa prática que, em alguns momentos, fica confusa. Tem-se a cultura de controle do Estado através dos serviços. Em algumas ocasiões presenciamos fatos que nos pareceram incoerentes como, por exemplo, usar da falta de conhecimento que os(as) usuários(as) e familiares têm sobre seus diretos a benefícios para supostamente os(as) condicionar à adesão ao tratamento, como que um empurrãozinho para que participem das atividades do serviço. Consideramos esta e outras práticas de controle bastante perigosas e incoerentes. Pensamos que estas posturas fragilizam as relações de confiança entre profissionais e usuá-

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz