A saúde mental em evidência: narrativas de um caminho utópico

92 Capítulo VI – Assédio moral e ética no trabalho A experiência da residência O espaço da Residência é, por vezes, um pouco confuso, pois os papéis se alternam entre profissionais formadas – com registro no Conselho Profissional – e estudantes em formação. Esta falta de clareza dos papéis e atribuições das residentes, em determinadas circunstâncias, causa uma série de acontecimentos e até mesmo assédio moral. Na pesquisa de Marques et al. (2012), referente ao assédio moral nas residências médica e não médica em um hospital de ensino, utilizaram-se, durante as entrevistas aos(às) residentes, dois conceitos de assédio moral. O primeiro conceito proposto pela psiquiatra francesa Marie-France Hirigoyen e o segundo conceito proposto pelo psicólogo sueco Heinz Leymann: Entende-se por assédio moral as condutas abusivas que se manifestam através de comportamentos, palavras, atos, gestos e escritas que tragam dano à personalidade/dignidade/integridade física/psíquica de uma pessoa, que põem em perigo o seu trabalho ou degradam o seu ambiente de trabalho (MARQUES et al., 2012). Assédio moral é a deliberada degradação das condições de trabalho por meio do estabelecimento de comunicações não éticas (abusivas) que se caracterizam pela repetição [...] de um comportamento hostil (MARQUES et al., 2012, p. 403). O(a) residente é também trabalhador(a) do serviço. Ele(a) exerce suas atividades e é considerado mão de obra, pois por já ser profissional auxilia as equipes que não possuem cargos efetivos o suficiente. É notável nos serviços que não há recursos humanos para suprir as necessidades e demandas. A abertura de campos de estágio e de Residência influencia diretamente nisto, visto que estagiários(as) e residentes auxiliam nos atendimentos, diminuindo a lista de espera. Visualizamos contradição nisto: ao mesmo tempo em que se é profissional para auxiliar com as demandas, não se é profissional para assumir responsabilidades. Em alguns momentos somos profissionais técnicas responsáveis pelo trabalho que executamos. Em outros, somos estudantes inexperientes, onde todo(a) e qualquer outro(a) profissional do campo sente-se corresponsável por nossa formação, dando sugestões e exigindo atitudes as quais entendem ser da nossa profissão. O que mais agrava estas concepções é a forma como chegam a nós.

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