A saúde mental em evidência: narrativas de um caminho utópico

72 Capítulo IV - Formação e saúde: residentes multiprofissionais em questão descritas possui suas especificidades. Normalmente, os(as) profissionais do SUS e os(as) próprios(as) residentes são oriundos(as) de uma formação fragmentada, voltada para o entendimento e atendimento referente à sua área de conhecimento (PAULON et al., 2014). O modelo tradicional, conhecido como biomédico, o qual baseia-se em uma visão cartesiana de divisão corpo-mente, não leva em conta fatores psíquicos, afetivos, históricos, culturais, sociais e ambientais envolvidos no processo de adoecer. A organização dos currículos de formação profissional ainda tem uma forte influência por esse modelo e seus conteúdos curriculares estão organizados de forma que priorizam questões relacionadas à saúde de forma individual à coletiva. A construção do conhecimento acadêmico com a prática na realidade acaba sendo um obstáculo pelo fato de se trabalhar com o conhecimento legitimado pela ciência tradicional e não com o conhecimento exigido pelos dados da realidade encontrada e seus desafios presente (ARAÚJO; MIRANDA; BRASIL, 2007). Acontecendo dessa forma, a repetição da clínica centrada na eliminação dos sintomas e distante das políticas públicas que embasam a saúde (PAULON et al., 2014). Os(as) profissionais formados(as) e formatados(as) no modelo médico-centrado além de necessitarem rever drasticamente suas concepções ideológicas e éticas, se encontram à frente da responsabilidade de estabelecer uma proposta de modelo assistencial que roga por uma ruptura da maioria dos conceitos estudados ao longo dos anos de formação (YASUI; COSTA-ROSA, 2008). Acrescentando a essas considerações o fato das dificuldades encontradas na mudança desse modelo, é a formação da maioria dos(as) profissionais que hoje contam como quadro de trabalhadores(as) do SUS (PAULON et al., 2014). Entre os desafios apresentados na pesquisa de Silva e Costa (2008) com trabalhadores(as) de Centros de Atenção Psicossocial de Goiânia/GO, estão: falta de suporte da rede de atendimento, necessidade de capacitação, dificuldades na atuação interdisciplinar, profissionais com formação biomédica, insatisfação e desmotivação com a baixa remuneração, dupla jornada de trabalho e falta de reconhecimento. Neste sentido, Ramminger (2005) aponta que o(a) trabalhador(a) de saúde mental habita na tensão entre estar em um local propício para a criação de seu fazer versus a desvalorização de seu próprio cuidado, desgastando o(a) profissional. “É neste jogo que temos a subjetivação do trabalhador de saúde mental, considerando que é no confronto com o sofrimento – seja valendo-se dele para criar, seja lutando para não adoecer – que se dá o cotidiano do seu trabalho” (RAMMINGER, 2005, p. 104).

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