A saúde mental em evidência: narrativas de um caminho utópico

71 Camila Martins Sirtoli e Tamires Dartora A área de atuação da Saúde Mental sofreu significativas mudanças após as reivindicações trazidas pelo movimento da Reforma Psiquiátrica, propondo um cuidado humanizado e em liberdade ao sujeito acometido por um sofrimento psíquico, a partir da consolidação de seus direitos e cidadania. A substituição do modelo assistencial para o psicossocial propôs a construção de uma rede de cuidado com serviços comunitários para o atendimento e reinserção social dos(as) usuários(as), como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Residenciais Terapêuticos, Unidades de Acolhimento, Iniciativas de Geração de Trabalho e Renda, leitos de internação psiquiátrica em hospital geral, entre outros (BRASIL, 2013; SILVA; COSTA, 2008). Segundo Paulon et al. (2014), as práticas em saúde mental propõem ações fundamentadas no modelo psicossocial de cuidado em saúde nos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), tendo como compreensão que a doença dos(as) usuários(as) não seja tomada como empecilho para o exercício pleno de sua cidadania. Todavia, esse mesmo paradigma parece distante quando se pensa em situações de adoecimento dos(as) trabalhadores(as) de saúde mental, reproduzindo práticas sustentadas pelo modelo biomédico cujo reducionismo tanto combatemos discursivamente. Quando um(a) trabalhador(a) adoecido(a) psiquicamente afasta- -se de seu ambiente de trabalho, separa-se os sãos do doente, deixando de lado a capacidade crítica de reflexão da análise e transformação dos processos de produção de saúde e doença nos espaços de trabalho. Assim, agindo de forma reducionista e estigmatizando este(a) trabalhador(a) por não se encontrar apto(a) a desempenhar sua função, prosseguimos restabelecendo os “manicômios mentais” (PAULON et al., 2014). Essas transformações do modelo assistencial em saúde mental exigiram dos(as) profissionais um novo modo de agir, fortalecendo o seu compromisso com o paradigma de cuidado baseado na humanização, acolhimento e cidadania. Essa reinvenção do fazer e a proposta de novas estratégias de atenção configuraram-se na necessidade de desconstruções diárias, tornando um desafio aos(às) profissionais de saúde e residentes em formação. Assim sendo, percebe-se a ausência de diretrizes que auxiliem no cuidado e na valorização do(a) trabalhador(a) de saúde mental. Esta falta de investimento de políticas públicas para este setor acaba por refletir diretamente nos atendimentos e efetivação dos serviços de saúde mental (RAMMINGER, 2005; SILVA; COSTA, 2008). As Residências Multiprofissionais em Saúde Mental visam a formação de algumas áreas profissionais como, por exemplo, Enfermagem, Nutrição, Psicologia, Serviço Social, entre outros. Cada uma dessas áreas

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