A saúde mental em evidência: narrativas de um caminho utópico

70 Capítulo IV - Formação e saúde: residentes multiprofissionais em questão sores durante esse processo de formação, tais como: carga horária extensa, cobranças e incompreensão do papel do(a) residente por diferentes atores envolvidos, atendimentos a casos graves, resistência da inserção na equipe de trabalho, assédio moral, condições precárias de trabalho, exploração, problemas relativos à qualidade do ensino, trabalhos acadêmicos, frustrações, falta de reconhecimento, privação de sono, falta de tempo para o lazer, isolamento familiar e social, entre outros. (CARVALHO et al., 2013; GUIDO et al., 2012). Em concordância a isso, Guido et al. (2012) realizaram uma pesquisa com o objetivo de verificar a ocorrência de Síndrome de Burnout – processo de esgotamento profissional, a partir da cronificação do estresse neste contexto, em Residentes Multiprofissionais em uma universidade pública do estado do Rio Grande do Sul. Como resultado, foi apontado o percentual de 27% dos(as) residentes com indicativo para Síndrome de Burnout, 37,84% apresentaram Alta Exaustão Emocional, 43,24% Alta Despersonalização e 48,65% Baixa Realização Profissional. A presença de Burnout, considerada a “síndrome da desistência”, em profissionais da saúde pode trazer prejuízos para a prática profissional e para a vida pessoal do(a) trabalhador(a), como depressão e dificuldades familiares e de relações sociais, incapacitando o seu envolvimento emocional (GUIDO et al., 2012). Da mesma forma, Carvalho et al. (2013) comprovaram que 51,1% dos(as) residentes (médicos e multiprofissionais) da cidade de Recife/PE apresentavam sintomas correspondentes aos Transtornos Mentais Comuns (insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas) resultantes de condições de vida e de trabalho. Esse resultado foi considerado elevado quando comparado à população geral (7%-35%). Assim sendo, chama-se a atenção para a qualidade de vida dos(as) profissionais em formação nesta modalidade de ensino (CARVALHO et al., 2013). (Des)cuidados acerca de trabalhar com a loucura Muito se fala e se estuda a respeito dos avanços da Reforma Psiquiátrica em curso no Brasil, no tocante aos serviços substitutivos aos manicômios e aos serviços prestados aos(às) usuários(as) e familiares. No entanto, pouco ainda se tem discutido e feito no que se refere a transformar os modos de trabalhar e suavizar o sofrimento gerado pelo meio laboral entre os(as) profissionais implicados(as) com o cuidado em saúde mental (PAULON et al., 2014).

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz