66 Capítulo IV - Formação e saúde: residentes multiprofissionais em questão serviços e instituições em que é disposta esta perspectiva de ensino. Visto que os(as) residentes são profissionais com ensino superior completo e a formação através da Residência é extensiva e associada à ausência de reconhecimento legal, resultaram inúmeros casos de exploração da força de trabalho do(a) residente. Apesar de atualmente existir uma legalização específica, percebe-se que a maneira como é organizada esta prática ainda gera grande sofrimento e adoecimento psíquico aos(às) profissionais participantes. (FERREIRA; OLSCHOWSKY, 2010). Assim sendo, o referido capítulo pretende discutir sobre a compreensão e atenção ao cuidado em saúde mental com os(as) Residentes Multiprofissionais em Saúde. Levando em consideração a experiência através da formação em Saúde Mental, busca-se especificar a discussão a partir desta prática. Em função das limitações do trabalho, não há a intenção de dar conta de toda a complexidade da discussão acerca da função social do trabalho e da saúde do(a) trabalhador(a), mas contribuir com as especificidades do desafio de ser residente neste contexto e alertar para a devida atenção que esta temática necessita. O trabalho como potencializador de bem-estar e adoecimento De acordo com Dejours (2004) e Amazarray, Câmara e Carlotto (2014) se faz primordial compreender que o trabalho não é somente como uma atividade inclinada para a sobrevivência econômica. A significância do trabalho na vida do sujeito perpassa as interseções sociais construídas através deste e se estende em um mundo humano mediado pelas relações de dominação, poder e desigualdades. Por conseguinte, o trabalho e a saúde se encontram em uma linha tênue sendo capaz de transformar essa relação em prazer e/ou adoecimento físico e psíquico (MERLO; BOTTEGA; PEREZ, 2014). Merhy e Feuerwerker (2016) no texto intitulado Novo olhar sobre as tecnologias de saúde: uma necessidade contemporânea, realizam a compreensão do trabalho humano através do pensamento de Marx, evidenciando o trabalho como um processo de mútua produção, uma práxis, que expõe a relação sujeito/mundo. As atividades humanas de trabalho, como as práticas de saúde, são atos produtivos, visto que geram novos efeitos sobre algo e modificam a condição de alguma coisa já imposta. Nesse sentido a construção mental do produto a ser realizado antecede e se antepõe ao processo de trabalho em si. É essa construção mental que dá sentido ao trabalho (p. 61). As práticas de saúde, como toda atividade humana, são atos produtivos, pois modificam alguma coisa e produzem algo novo. Configu-
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