A saúde mental em evidência: narrativas de um caminho utópico

61 Sophia Luar Araújo Patrício e Vanessa Ruffatto Gregoviski essas horas não podem ser computadas como parte do processo por não serem reconhecidas dentro de uma lógica de contabilização cristalizada. Com base no que foi discutido, retomamos o conceito anteriormente debatido, de Alves (2009), sobre trabalho manifesto e trabalho oculto. Quando falamos nisto, questionamos a sensibilidade em perceber o sujeito humano parte do processo, que cada vez mais perde seu tempo de descanso e o utiliza em trabalhos ou preocupações, ficando vulnerável a todos os adoecimentos físicos e psíquicos que resultam disso. Como é possível cuidar da saúde de alguém quando as pessoas que estão fazendo isso não têm a sua própria olhada? Concluindo Ao longo deste capítulo tivemos a oportunidade de refletir sobre a conjuntura atual do trabalho no Brasil, sua precarização e reflexos na saúde dos trabalhadores. Como já mencionado, a saúde do trabalhador sofreu grandes modificações ao longo da história, passando por (des) construções, significativos avanços, estagnações e consideráveis retrocessos. Os determinantes políticos, culturais, econômicos e ideológicos, delineados historicamente até aqui, contribuíram para marcar as principais características no campo da saúde do trabalhador. O Ministério da Saúde do Brasil reconhece a existência de múltiplas formas de trabalho precário em saúde e elabora através da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde, um “Programa Nacional de Desprecarização do Trabalho no SUS” com estratégias definidas para a reversão do quadro (BRASIL, 2006a). Uma das mudanças recentes no âmbito do trabalho em saúde no Brasil é o crescimento do número de trabalhadores sem as garantias trabalhistas das quais os demais trabalhadores assalariados da instituição gozam, tais como: contratos temporários, trabalhadores contratados para realizar atividades especiais (como plantonistas em hospitais), flexibilização na contratação de agentes comunitários de saúde e equipes de saúde da família pelo governo brasileiro, residentes e o trabalho temporário previsto no Programa de Interiorização do Trabalho em Saúde que concorre para a diminuição do número de trabalhadores formalizados e na constituição de um numeroso exército de reserva (BRASIL, 2006a). Nesta perspectiva, faz-se necessário refletir acerca dos limites e possibilidades da Saúde Coletiva e do Trabalho enquanto ciência e área da saúde, que devem pensar seus instrumentos de intervenção, bem como novas e aprimoradas soluções para as questões atuais. Nesse sentido, a Residência vem como estratégia de fortalecimento do SUS, ainda

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