A saúde mental em evidência: narrativas de um caminho utópico

58 Capítulo III – A precarização do trabalho e da saúde no auxílio de comunidades mais carentes, bem como ergue a bandeira da competitividade e individualidade. Assim, havia a disputa entre dois projetos: o privatista (apoiando a privatização e a constituição do cidadão consumidor) e o sanitarista (apoiando o SUS). Percebe-se que essa disputa se mantém até os dias atuais, sendo que o projeto privatista cada vez mais ganha intensidade através do desmantelamento de políticas públicas de garantia de direitos. O projeto da saúde vinculado ao mercado e à privatização impõe ao Estado a garantia de efetivar apenas ações mínimas na saúde, com caráter focalizado para atender o cidadão que não pode pagar pelo serviço. Essa proposta visa o estímulo à privatização da saúde, fortalecendo um sistema para os consumidores e deixando o SUS restrito apenas aos cidadãos pobres, por meio de programas precários e focalizados (SANTOS, 2013, p. 237). A autora traz, porém, que a luta pela não privatização do SUS também se mantém até hoje. Cita, como exemplos, desde alguns projetos privados que faziam parte da política de governo até as Fundações Públicas de Direito Privado, que defendiam a privatização da previdência e da saúde, restringindo a assistência às populações que vivem na miséria, acabando com o Tripé da Seguridade Social (SANTOS, 2013). O projeto do grande capital aponta a saúde não como direito universal, mas como um serviço que pode ser comprado no âmbito do privado. A saúde torna-se mercadoria, vista como fonte de lucro e acumulação de capital. Nesse sentido, vivencia-se um processo de privatização do SUS com os chamados novos modelos de gestão, que fortalecem a autonomia do mercado com abertura à iniciativa privada para os serviços de saúde. Isto é, vivencia-se a privatização da saúde pública no Brasil (SANTOS, 2013, p. 238). Apesar da luta constante de diversos movimentos sociais e sindicais contra a precarização da saúde e, por consequência, do SUS, vivemos em um período em que a saúde pública torna a estar ameaçada pela privatização e precarização dos serviços. Em um momento crítico da história, marcado pela corrupção e governos extremistas e fascistas, assim como por escândalos políticos, a flexibilização das leis trabalhista volta a estar em foco, novamente com um viés positivo, colocando em xeque políticas públicas e garantias de direitos. Assim, além de todos os agravos evidentes que isso acarreta para a população, é necessário pensar também em todas as dificuldades que traz para o trabalhador do sistema.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz