A saúde mental em evidência: narrativas de um caminho utópico

57 Sophia Luar Araújo Patrício e Vanessa Ruffatto Gregoviski vernamentais, os gestores aliaram o próprio trabalho à dispersão dessas ideias, para permitir que os conceitos do Movimento Sanitário entrassem na máquina estatal. Já os militantes de esquerda acreditavam que ao lutar por reformas na saúde e no mundo do trabalho com uma perspectiva mais social, seriam capazes de preparar o país para futuras reformas socialistas em outros setores (CAMPOS, 2007). Santos (2013) traz um breve relato histórico e relembra que a política de saúde nasce no Brasil ligada à Previdência Social, disponibilizando acesso somente àqueles que tinham um emprego formal, desse modo o trabalho e a carteira de trabalho devidamente preenchida ocuparam um papel central na garantia de acesso à saúde. É através do Movimento Sanitário que essa política começa a ser questionada e vai tomando diferentes rumos, mesmo que ainda privilegiando o setor privado e interesses empresariais. “Os movimentos sociais questionavam as distorções dessa política, desencadeando a mobilização dos profissionais de saúde em torno de interesses coletivos” (p. 236). Com uma maior aderência e luta de movimentos sociais e sindicais, a democracia e a saúde passam a ser vistas cada vez mais como algo associado. Nesse cenário acontece, em 1980, a VII Conferência Nacional de Saúde com o tema: “A extensão das ações de saúde através de serviços básicos”. De lá até 1986, quando aconteceu a próxima conferência – marco histórico da saúde –, foram contínuas lutas e momentos de instabilidade (SANTOS, 2013). Outro acontecimento considerado um marco histórico no que tange à política de saúde no Brasil foi a consolidação da VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada em março de 1986, em Brasília. Contou com a participação de quase 4.500 pessoas, dentre os quais, mil delegados a fim de discutir o rumo da saúde no país. Foi apontada nesse evento a necessidade de reestruturar a política de saúde com a criação do Sistema Único de Saúde. Os principais eixos discutidos foram: a saúde como direito de cidadania; a reformulação do Sistema Nacional de Saúde e o financiamento setorial (SANTOS, 2013, p. 236). No ano de 1988, a saúde, a previdência e a assistência se unem no tripé da Seguridade Social. Atendendo aos clamores da população, que buscava saúde digna e para todos, é criado o SUS, com os princípios norteadores da universalidade, da integralidade, da equidade e da participação da sociedade através do controle social (SANTOS, 2013). Para Santos (2013), ainda é importante destacar que os princípios do SUS acabam indo contra a proposta neoliberal que ganhou força no Brasil na década de 1990, defendendo que ao Estado cabia o mínimo

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