A saúde mental em evidência: narrativas de um caminho utópico

56 Capítulo III – A precarização do trabalho e da saúde brecarga de trabalho e seus efeitos nos indivíduos e nos processos de trabalho e saúde. O direito às greves e às paralisações Segundo Alves (2009), a precarização do trabalho, especialmente a partir dos anos 1990, intensifica a exploração já existente, assim como a amplia, existindo um desmantelamento dos coletivos de trabalho e das resistências, o que explicaria a diminuição na aderência de greves gerais. O autor atribui a esse fenômeno de precarização o aumento exacerbado do desemprego. Em concordância, Druck (2002) afirma que a fragilidade e a insegurança perante o trabalho são determinantes para um distanciamento dos trabalhadores frente ao coletivo. Assim, incentiva-se uma solução individual para um problema coletivo. Alves (2009) também defende que os novos formatos das greves são um reflexo da era neoliberal, ou seja, “a nova temporalidade histórica” do capital, marcada pela precarização do trabalho no Brasil, tende a reconverter a “cultura de greve” para o âmbito das empresas. “(...) É expressão da nova morfologia social da precarização do trabalho” (p. 192). Da mesma forma que com o novo formato, é importante destacar novas reclamações e clamores, explanando a ofensiva do capital nas produções. A partir do Plano Real se retomariam as greves (embora ainda ligada às empresas), especialmente clamando por direitos trabalhistas. “Ao lado dessas, crescem, no período de 1993 a 1999, as greves: por emprego, de 12% para 28%; pela jornada de trabalho, de 3% para 10%; e por motivo sindical, de 5% para 10%” (DIEESE, 2002 apud ALVES, 2009, p. 192). Ainda, segundo a autora, a “perda – no imaginário social – de referentes coletivos” (p. 192) marca a precarização do trabalho, utiliza-se do exemplo do elevado número de sindicatos criados para explicitar como o coletivo ficou subdividido. A precarização na saúde O surgimento do SUS vem de uma grande agitação popular reivindicando direitos, especialmente em relação à saúde. Esta mobilização, tendo início na década de 1970 e sendo denominada Movimento Sanitário, foi capaz de articular tanto políticos e gestores públicos quanto camadas populares e militantes de esquerda. Enquanto os políticos foram importantes para permitir o envolvimento de partidos e órgãos go-

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