A saúde mental em evidência: narrativas de um caminho utópico

48 Capítulo II – Modelo de cuidado em saúde mental e a utopia da sua legitimação O fortalecimento da saúde mental Assim, essa construção teórica nos leva ao questionamento de: como podemos fortalecer a(s) atuação(ões) em saúde mental que acreditamos? O fortalecimento que visamos tem como ética o olhar proporcionado pela humanização, com novas referências de sociabilidade, novos contratos sociais de relações e um lugar político social inclusivo, como espaço de vida e como inversão do modelo hegemônico de assistência psiquiátrica. Humanizar, portanto, implicaria em um compromisso com a pluralidade de forças que compõem a vida. Já a exclusão/inclusão social são temas das políticas sociais, das políticas de saúde em geral e da política de saúde mental em particular nos últimos tempos, que trazem em seu bojo contradições sobre as diferentes abordagens de assistência psiquiátrica (SILVA; BARROS; OLIVEIRA, 2002). Reconhecemos que a conjuntura socioeconômica atual, além de dificultar o fortalecimento dos movimentos sociais, desaquece as políticas sociais em andamento e retarda as mudanças necessárias. Percebe-se que isto promove a exclusão social, tanto da saúde mental como de grande parcela da população que não tem poder de inserção na sociabilidade capitalista neoliberal, causando tanto um adoecimento psíquico em massa quanto enfraquecendo atuações clínicas-políticas (SILVA; BARROS; OLIVEIRA, 2002). Argumentamos que o gesto que pode afastar o movimento hegemônico da exclusão precisa ser concretizado com ações políticas e pela negação da barbárie do modelo clássico que colocou o doente mental entre parênteses para a objetivação da loucura. Infelizmente, percebe-se um retorno da lógica social hegemônica que visa à produção de sujeitos como identidades privatizadas, hedonistas e massificadas pelo consumo. Aponta-se, em contrapartida, o fortalecimento de uma ética comprometida com a invenção de novos modos de vida, com a desmontagem de uma sociabilidade ancorada no medo, na impotência, na redução dos espaços de circulação e de enfrentamento dos dispositivos montados para reforçar cotidianamente a exclusão social, a intolerância e a discriminação (DIMENSTEIN, 2004). A desmontagem do dispositivo relaciona-se diretamente com a ideia de humanização e desinstitucionalização. Porém, humanizar não se restringe somente ao aumento de unidades prestadoras de serviço nem à melhoria das condições dos locais onde os usuários são atendidos, seja ambulatório, hospital-dia ou sejam os serviços substitutivos como os Centros de Atenção Psicossocial – CAPS (DIMENSTEIN, 2004). É necessário e urgente pesar sobre todas as formas já existentes de cuidado em

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